São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 1997
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Moradores choram ao encontrar acusados

DA SUCURSAL DO RIO

Houve tensão ontem nos corredores do 2º Tribunal do Júri, quando familiares das vítimas de Vigário Geral se encontraram com 14 dos réus acusados pela chacina.
Como esses réus respondem ao processo em liberdade, eles circulavam livremente pelo fórum, no mesmo local onde as famílias esperavam o chamado para a sessão.
"Meu marido está morto, e esses caras ficam passando por aqui como se nada tivesse acontecido", disse Maria de Lourdes Santos, viúva de uma vítima.
Não houve troca de acusações ou ameaças entre as famílias das vítimas e réus, mas muitos dos moradores que aguardavam o julgamento ficaram com medo e choraram. J., sobrevivente da chacina, cobriu o rosto e deixou o corredor.
Os parentes de vítimas usavam camisetas brancas estampadas com o retrato dos mortos. O adiamento deixou as famílias entre a frustração com a demora no processo e a esperança de que novas provas facilitem as investigações.
"Fiquei decepcionada", afirmou Dora Santos, mãe do mecânico Hélio, vítima da chacina.
As famílias das vítimas ainda não receberam as indenizações prometidas pelo governo. As ações estão sendo julgadas. João Duarte, coordenador da Casa da Paz -organização não-governamental criada depois da chacina para fazer trabalhos comunitários na favela- diz que o adiamento mostra a fragilidade da investigação.
"Por que não exumaram os corpos logo depois da chacina e não fizeram o exame de balística? O governo quis enterrar todo mundo, para dar uma resposta à comunidade internacional, e deixou de cumprir os passos básicos de uma investigação", afirmou.
Integrantes do grupo Afro-Reggae, de Vigário Geral, tocaram, dançaram e cantaram em frente ao fórum, pedindo paz para a comunidade e justiça para os culpados.
O sociólogo Caio Ferraz, fundador da Casa da Paz refugiado nos EUA depois de ser ameaçado de morte, conversou com Duarte pelo telefone e pela Internet e mostrou-se preocupado com a possibilidade de um adiamento por tempo indeterminado.
A escritora Glória Perez, mãe de atriz Daniella Perez, acompanhou a sessão e disse que o adiamento é sempre frustrante para as famílias.

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