São Paulo, sábado, 19 de abril de 1997
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FHC, arrogância e náufragos

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A marcha dos sem-terra a Brasília permitiu que alguns líderes de oposição ressuscitassem para o grande público.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Leonel Brizola (PDT) tiveram seus 15 minutos de glória na mídia.
Essa reaparição gerou, ontem e anteontem, em Brasília, um debate sobre se existe alguma ação coordenada das oposições em relação ao governo FHC.
Será que a oposição, finalmente, teria encontrado um discurso mais uniforme e estaria partindo para uma série de atos públicos de protesto contra o governo tucano de FHC?
É difícil responder a essa pergunta. Só o tempo dirá as lições que líderes como Lula e Brizola aprenderam com os sem-terra.
Mas o histórico recente das esquerdas permite uma inferência segura: é pouco provável que a oposição conseguisse tanto espaço para criticar FHC sem a organização dos sem-terra.
A impressão que se teve em Brasília era que entidades de classe e partidos estavam todos a reboque dos sem-terra. Como não deve haver outra marcha num futuro tão próximo, o palanque está desfeito.
Essa análise acima não contém juízo de valor. É apenas uma constatação. Uma triste constatação. Até porque há muitas iniquidades no país além da miséria mostrada pelos sem-terra. Só que as oposições não conseguem preparar uma ação orgânica contra o que consideram errado no governo.
Para FHC, a situação é cômoda. A ponto de o presidente esbanjar arrogância e realidade em seus comentários. Fez isso ontem, em entrevista à rádio CBN, falando dessa suposta avançada dos líderes de oposição:
"São surfistas. Como não têm mais nenhuma brecha, vão aí como náufragos e pegam uma bóia".
Sobre o quase lançamento da candidatura de Lula a presidente, FHC esbarrou na grosseria. "Não foi a primeira vez, será a terceira vez. O Brasil já conhece", disse.
Ao que parece, a única coisa que a oposição faz é torcer para FHC tropeçar na sua própria autoconfiança.

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