São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Economista defende produção familiar

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A realização de uma ampla reforma agrária teria hoje no Brasil o significado que a criação do "welfare state" nos países desenvolvidos a partir do fim do século 19.
É o que diz o professor de economia agrícola da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), José Graziano da Silva, 47.
"O 'welfare state"', afirma o professor, "teve origem no Reino Unido, no final do século passado, quando os proprietários de indústrias rurais perceberam que os trabalhadores precisavam ter moradias dignas".
"Iniciou-se então a construção de casas próximas às indústrias, garantindo aos trabalhadores casa, comida e trabalho", completa.
Segundo o professor, o Brasil tem quase 30% da população no meio rural e, devido à redução da oferta de trabalho nas cidades, precisa encontrar uma maneira de segurar essa parcela no campo.
"A saída é reestruturar o núcleo familiar como unidade de produção e consumo", diz. Essa reestruturação teria como base um "local físico": a terra. "É preciso resgatar a idéia da terra como ponto de partida para a família desenvolver atividades produtivas, agrícolas ou não-agrícolas."
Para o sociólogo Ricardo Abramovay, 44, professor do mestrado de ciência ambiental da USP (Universidade de São Paulo), é preciso investir na agricultura familiar.
"Ninguém quer interferir na produção das grandes empresas agropecuárias, mas, com pouco investimento, pode-se fixar a família no campo com sucesso", diz.
"O núcleo de produção familiar é mais competente e produtivo do que a empresa agrícola baseada no trabalho assalariado", afirma. Como exemplo de sucesso da agricultura familiar, Abramovay cita a plantação de fumo no sul do Brasil, cuja produção anual chega a atingir R$ 1 bilhão.
Solução macroeconômica
Para o professor Fernando Homem de Mello, 54, do departamento de economia agrícola da USP, o assentamento de centenas de milhares de famílias não é a melhor estratégia para enfrentar a crise social do país.
"No mundo inteiro, o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas está caindo", diz. Para ele, a causa principal da pobreza no Brasil é a capacidade reduzida de criação de novos empregos.
"Para que empregos surjam, o governo tem de desatar o nó que emperra o crescimento da economia desde o início do Plano Real", afirma o economista.
A agricultura, segundo ele, sofreu especialmente com a "âncora verde" -importação de alimentos como estratégia para comprimir os índices de inflação-, as taxas elevadas de juros internos e a valorização da taxa de câmbio.
Para ele, uma política agrícola eficiente levaria à geração de empregos nas pequenas e médias cidades do interior do país.
Essa é também a opinião do ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, 48. "Os governos sempre estimularam a industrialização e puniram a agricultura. Hoje é mais fácil criar empregos a partir do campo do que nas cidades", diz.
Embora defenda uma solução macroeconômica para a crise no campo, Homem de Mello acha que o governo deve promover a reforma. "É melhor assentar de maneira planejada do que deixar que as invasões ameacem ainda mais a agricultura."

LEIA MAIS sobre assentamentos na pág. 3-10

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