São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Cobertor fez índio virar tocha humana

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor do IML (Instituto Médico Legal) de Brasília, Eduardo Reis, afirmou que o corpo do índio Galdino Jesus dos Santos foi quase totalmente queimado.
"As únicas partes da pele que não foram queimadas e arrancadas eram as plantas dos pés e uma pequena parte do couro cabeludo", afirmou Reis.
O índio estava coberto por um cobertor de material sintético, inflamável, o que, segundo a polícia, fez que suas roupas queimassem com mais rapidez, tornando-o uma espécie de tocha humana.
O laudo do IML e do hospital são diferentes com relação ao grau das queimaduras. Segundo o hospital, o índio tinha lesões de terceiro grau em 85% do corpo e de segundo grau em 10% do corpo.
Segundo laudo divulgado pelo hospital, ele morreu por insuficiência renal e parada cardiorrespiratória irreversível.
O IML diz que todas as queimaduras eram de segundo grau. "Elas não atingiram partes mais profundas do corpo, apenas arrancaram a pele", disse o diretor do IML.
Queimadura de terceiro grau é a que atinge os músculos e ossos, segundo Reis.
A vice-diretora do hospital, Neli Calegaro, discorda. Ela disse que o índio não tinha condições de sobreviver pela profundidade das queimaduras. Para Reis, ele morreu porque as lesões "foram de caráter universal", ou seja, atingiram quase a totalidade do corpo.
Segundo o IML, a morte também foi decorrente de insuficiência renal e respiratória e falência múltipla de órgãos. O índio também apresentava hemorragia digestiva, conforme o laudo do hospital.
O ataque
O índio foi atacado por cinco jovens de classe média de Brasília na madrugada de domingo. Eles jogaram uma substância inflamável -ainda não identificada pela polícia- sobre o corpo de Santos. Ele dormia no banco de uma parada de ônibus na avenida W3 Sul.
O corpo será velado no Museu do Índio e levado hoje para Ilhéus (BA). Será transportado até a área indígena Caramuru-Catarina-Paraguassu, no município de Pau Brasil, sul do Estado.
Tristeza
"A gente tem que sofrer e aguentar a tristeza", disse Juvenal Rodrigues, pai de Santos, enquanto aguardava a liberação do corpo.
O Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil divulgou ontem manifesto em protesto contra a morte.
"Perdemos mais um líder", diz o manifesto. "Crime dessa natureza não pode ser visto apenas como um ato isolado contra o índio. Caracteriza-se como uma atitude covarde e irresponsável contra a vida humana e a nação brasileira."

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