São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Cuba

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM HAVANA

Apesar das dificuldades econômicas, mercado musical da ilha volta a se movimentar, estimulado por gravadoras estrangeiras

O mercado musical de Cuba volta a olhar o futuro com um certo otimismo. Os investimentos estrangeiros -por meio de selos que estão se instalando na ilha- surgem como alternativa para as dificuldades econômicas que o país tem enfrentado nesta década.
"O problema é que os investimentos ainda são tímidos, devido ao receio de represálias por parte do bloqueio dos EUA", diz o jornalista Igor Lopes de Godoy, da Rádio Havana Cuba, que transmite um programa diário, em ondas curtas, para o Brasil.
Mesmo assim, executivos do disco comemoram um relativo crescimento do mercado. "Estamos vendendo mais discos a cada ano, e o país tem material suficiente para que várias companhias de disco possam se abastecer", diz José Manuel Garcia, diretor da Egrem, a gravadora estatal cubana.
Na verdade, os resultados ainda são tímidos, comparados ao volume de negócios da década passada. Segundo a Egrem, em 1996, foram vendidos cerca de 270 mil discos na ilha, entre cassetes (150 mil), CDs (65 mil) e LPs (55 mil).
"Na década de 80, chegou-se a vender até 1,5 milhão de LPs por ano. Um disco dos Van Van atingiu a marca de 100 mil cópias, uma vendagem altíssima em um país de 11 milhões de habitantes", compara o diretor-geral da Egrem, Júlio Ballester Gusmán.
Para um país onde a música sempre foi consumida em grande escala, a queda nas vendas de discos é compreensível, em função da conjuntura econômica.
Um CD (com preço médio de US$ 15, em Havana) tornou-se um artigo de altíssimo luxo, inacessível para a quase totalidade dos cubanos. Atualmente, médicos ou engenheiros, por exemplo, recebem inacreditáveis salários mensais na faixa de US$ 20.
Uma alternativa para quem não vive sem música é recorrer à pirataria. Cópias ilegais dos últimos CDs das bandas salseiras mais populares, como as de Manolín ou Paulito FG, podem ser conseguidas por US$ 2. Levando um cassete, o preço cai para US$ 1.
Mesmo sem poder contar atualmente com a absoluta maioria dos consumidores cubanos, a Egrem -maior gravadora do país e única durante mais de duas décadas- festeja resultados.
"Desde 1989, quando deixamos de ter o monopólio do mercado de discos no país, que decidiu abrir sua economia, a Egrem já multiplicou por quatro seus lucros", diz Ballester Gusmán.
Acordos de licenciamento de discos com empresas multinacionais, como a Sony e a BMG, ou parcerias com gravadoras menores, como a brasileira Velas, estão entre as principais estratégias da estatal cubana de disco.
"Hoje, o mercado europeu é importantíssimo para nós, especialmente a França e a Espanha. Há um grande interesse dos franceses pela música cubana. E não só pela salsa, mas até por nossa música folclórica", diz Ballester Gusmán.
Por outro lado, a parceria com a Velas segue de vento em popa, depois dos álbuns "Ao Vivo", que Ivan Lins gravou em Cuba, e "Boleros Inesquecíveis", que a banda Irakere gravou em São Paulo.
"Já estamos planejando outros projetos. Fora os EUA, o Brasil e Cuba são as principais forças musicais da América, e essa associação está rendendo bons produtos", diz José Manuel Garcia.
Na verdade, todos os selos que vêm se instalando na ilha, nos últimos anos, acabam se associando de alguma forma à Egrem. A propriedade de todos os estúdios de gravação do país e o controle sobre a distribuição dos discos garantem esse privilégio.
É justamente na área das gravações que se encontra outra fonte de otimismo para a Egrem. Com a inauguração de seus novos estúdios (com quatro salas de gravação), no próximo semestre, a capacidade de realizar gravações no país será dobrada.

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