São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Selo dribla boicote norte-americano

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM HAVANA

O ferrenho bloqueio econômico imposto a Cuba pelos EUA não consegue impedir que o público norte-americano tenha acesso a algumas preciosidades da música cubana mais recente.
Estudando com cuidado a legislação que determina o boicote, o músico e produtor norte-americano Ned Sublette encontrou uma forma de levar bandas de música cubana aos EUA.
"Isso é possível desde que as apresentações tenham um caráter de intercâmbio cultural, sem fins comerciais. Uma brecha que inclui praticamente qualquer músico de Cuba", diz o produtor.
Foi dessa maneira que Sublette conseguiu permissão oficial para uma pioneira turnê de Los Muñequitos de Matanzas, em 1992. A banda fez shows em 17 cidades de três Estados norte-americanos, com ótima cobertura da imprensa.
Nesse mesmo ano, nasceu o selo Qbadisc, com sede em Nova York, que lançou pela primeira vez nos EUA discos de NG La Banda, Orquestra Original de Manzanillo, Celina González, Sintesis e Los Muñequitos de Matanzas.
Atualmente, os 25 títulos do selo são distribuídos nos EUA e em Porto Rico. Mas o catálogo do Qbadisc está à disposição de qualquer pessoa, pela Internet, no endereço: qbqdisc@interport.net.
"Infelizmente, eu só posso licenciar gravações já existentes. A lei norte-americana não permite que eu financie a criação de artistas cubanos", diz Sublette.
Fã também da música brasileira, o músico e produtor decidiu conhecer Cuba logo após sua primeira viagem ao Brasil, em 1989. Apresentou-se no Festival Tucano Artes, no Rio de Janeiro.
"Minha vida se divide em antes e depois de Cuba", diz Sublette, que passou um mês viajando pela ilha, em 1990, ouvindo todos os músicos e bandas que pôde encontrar.
Hoje, depois de voltar 15 vezes à ilha, o norte-americano fala da música cubana com um fervor quase religioso. "Foi uma verdadeira revelação para mim", diz.
"Sei que os brasileiros têm boas razões para discordar, mas eu considero a música cubana a melhor do mundo. Ela só ficou eclipsada porque os EUA pararam de falar dela."
(CC)

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