São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 1997
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Reforma agrária com fritas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A cultura "fast food" predominante parece ter produzido expectativas absurdamente irracionais em torno do encontro FHC/MST, na sexta-feira.
Ficou parecendo que o Palácio do Planalto era o "drive thru" do McDonald's: bastaria o MST pedir à entrada uma reforma agrária com fritas para receber o prato pronto, à saída, servido por um FHC enrolado na bandeira do movimento.
Ou, na hipótese inversa, que FHC enrolasse a turma a tal ponto que o MST aceitaria bife de soja como legítimo hambúrguer e, ainda por cima, o João Pedro Stédile, ideólogo do MST, toparia ser o vice na chapa de FHC para 1998.
Como nada disso aconteceu, vendeu-se a idéia de que a novidade do encontro foi o fato de as partes terem mantido suas posições. Pode até ser verdade, o que só o tempo dirá, mas novidade com certeza não é.
Alguém poderia imaginar seriamente que mudassem de posição em 75 minutos de papo, quando as partes têm divergências político-ideológicas profundas, têm responsabilidades muito diferentes e respondem a demandas absolutamente divergentes?
A base parlamentar governista leva meses, às vezes anos, para conseguir se entender em torno de um punhado de temas. Como seria possível que adversários se compusessem em magros 75 minutos, que foi o tempo que durou a audiência da sexta-feira?
A novidade do encontro, repito, foi a sua realização. Não é todo dia que "primitivos" e "canalhas" (como os dois lados andaram qualificando um ao outro nas vésperas) sentam-se à mesma mesa sem que corra sangue.
Uma segunda (e mais importante) novidade depende de o MST aceitar participar da comissão sugerida pelo presidente.
O diabo é que a cultura "fast food" certamente considerará a comissão um fracasso se, na sua primeira reunião, não for capaz de produzir uma reforma agrária.

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