São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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"Jedi" é império do continuísmo

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não vá assistir a "O Retorno de Jedi" sem ter antes visto as duas primeiras partes da trilogia de George Lucas. O conselho óbvio não se deve apenas à íntima relação de seus argumentos, mas, principalmente, ao fato de este filme não ter existência própria, não subsistir como obra isolada.
Lucas concebeu "O Retorno" como conclusão de sua saga, na qual se resolveriam todas as questões expostas nas duas primeiras -a origem de Luke, o triângulo amoroso entre os protagonistas, o embate entre bem e mal etc.
Aparentemente, porém, esqueceu-se de realizar o filme em si. Tudo em "O Retorno" aposta na memória afetiva que seu público guarda de "Guerra nas Estrelas" e "O Império Contra-Ataca".
Han Solo dá uma risada maliciosa? O espectador responde com outro sorriso. Não por que essa risada crie uma situação engraçada, mas por fazer referência ao caráter dúbio do personagem, construído em outras telas.
Darth Vader representa o mal? A bem da verdade, todo o filme parece corroborar a intuição de Luke, que enxerga uma chance de redenção para seu pai. A necessária dúvida que o público deve manter, para que se construa o suspense, se apóia em vilezas cometidas nas obras anteriores.
Há, é claro, algumas boas sequências. Os confrontos entre Luke e Jabba ou Luke e Vader lembram os melhores momentos dos capa-e-espada clássicos.
Os realizadores se eximem, porém, da responsabilidade de criar tensão e identificação. Deixam para o olhar da platéia a tarefa de autor, como em um teste em que se pede que sejam preenchidos os espaços em branco.
Mais do que saga intergaláctica, a trilogia de Lucas parece contar a história recente de Hollywood.
"Guerra nas Estrelas", em que pesem seus vários defeitos, deu um novo sopro de vida a uma indústria em crise, tendo por armas originalidade e ousadia.
Em "O Império Contra-Ataca", aproveitava-se o sucesso de seu predecessor para realizar um eficiente produto cultural, equivalente às melhores produções de estúdio das décadas anteriores.
Neste "O Retorno de Jedi", lançou-se o triste paradigma do blockbuster. Estratégia de marketing em lugar de decupagem. Continuísmo em vez de criação.
Dá-se ao público o que ele já conhece, o que ele espera. Vale a máxima do fast food: a melhor surpresa é a ausência de surpresas.

Filme: O Retorno de Jedi
Produção: EUA, 1983
Direção: Richard Marquand
Com: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Billy Dee Williams
Quando: a partir de hoje nos cines Marabá, Bristol, Plaza Sul 1 e circuito

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