São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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55 mil hutus desaparecem no Zaire

Tutsis vetaram acesso da ONU

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de 55 mil refugiados ruandeses hutus acampados ao sul de Kisangani (oeste do Zaire) desapareceram, disse a ONU.
"Nossos enviados viram os acampamentos, mas eles estavam vazios", afirmou o porta-voz da organização Paul Stromberg.
Cerca de 80 mil refugiados, do mais de 1 milhão que fugiu da perseguição étnica em Ruanda, ainda estão no oeste do Zaire.
No início da semana, os rebeldes tutsis que controlam a região impediram que a ajuda humanitária da ONU chegasse aos refugiados, isolando os 80 mil hutus distribuídos em dois acampamentos.
Os tutsis alegaram que fariam uma operação militar na região.
Ontem, o acesso a um dos campos de refugiados, o de Kasese (25 km ao sul de Kisangani), com 55 mil hutus, foi permitido, mas nenhum refugiado foi encontrado.
"Minha impressão é de que o lugar estava limpo demais para um campo do qual as pessoas fugiram de repente", disse Brenda Barton, porta-voz do Programa de Comida Mundial da ONU.
Os rebeldes não deixaram que os membros da ONU continuassem a procurar os refugiados pela região.
Habitantes da região disseram que anteontem os rebeldes mataram centenas de refugiados em Kasese, e houve uma batalha entre tutsis e os hutus.
Tutsis e hutus são etnias rivais. Em 1994, o governo hutu de Ruanda patrocinou o genocídio de mais de 1 milhão de tutsis e hutus moderados. Uma guerra civil entre as etnias levou os tutsis ao poder e provocou o êxodo dos hutus.
Guerra civil
Os rebeldes tutsis do Zaire, comandados por Laurent Kabila, já dominam mais da metade do país e continuam a avançar.
Ontem, anunciaram a captura das cidades de Ilebo e Tshikapa, importantes vias de abastecimento da capital do país, Kinshasa.
A informação, dada pelo "ministro da Justiça" dos rebeldes, Mwenge Kongolo, foi confirmada por um padre que se comunicou com religiosos da região. "As cidades de Ilebo e Tshikapa (600 e 700 km a oeste de Kinshasa, respectivamente) estão em poder rebelde", disse o padre Dominique.
Tshikapa é o principal fornecedor de alimentos do país para Kinshasa. Ilebo, o segundo porto do país, é vital para o fornecimento de mercadorias para a capital. Segundo Kongolo, a conquista de Kinshasa é "mais uma questão de dias do que de semanas".
Os rebeldes tutsis avançam em direção à capital para depor o presidente Mobutu Sese Seko.
Mobutu ainda busca uma saída pacífica para a guerra, apesar da relutância dos rebeldes em participar de negociações com o presidente, no poder há 32 anos.
Honore Nganda, enviado de Mobutu, chegou à África do Sul para reunião com o vice-presidente Thabo Mbeki. O presidente sul-africano, Nelson Mandela, havia se encontrado com Kabila em busca de negociações de paz para o Zaire.

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