São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 1997
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País mudou juízes contra terror

DA "REUTER", EM LIMA

Foi a voz anônima detrás do espelho (que do outro lado era vidro transparente) que mais o assustou. "Você é um terrorista?", perguntou a voz, com uma distorção deliberada para ocultar a identidade de quem falava.
"Não", respondeu o camponês peruano Júlio Cesar Vásquez, solitário e assustado pelo estranho julgamento, sentado em um bloco de concreto na sala sem adereços.
"Você é um mentiroso sem-vergonha. A resposta é sim", disse a voz por alto-falante em frente ao espelho que ocultava o acusador anônimo; 20 minutos depois, os três juízes "sem rosto" sentenciaram Vásquez a 20 anos de prisão por pertencer ao Movimento Revolucionário Tupac Amaru.
O julgamento, em 1994, na cidade de Chiclayo (norte do Peru) foi um dos milhares levados a cabo nos últimos cinco anos pelas cortes secretas do país -um dos pilares da estratégia governista contra as guerrilhas de esquerda.
O presidente Alberto Fujimori criou os juízes "sem rosto" em 1992, no auge da batalha contra o marxista MRTA e outro grupo guerrilheiro, mais importante, o Sendero Luminoso, uma guerra que já custou 30 mil vidas.
Fujimori argumentou na época que os tribunais tradicionais estavam fracassando em condenar os terroristas por incompetência, corrupção ou medo.
Agora, mais de 4.000 pessoas estão presas sob acusações de terrorismo e a violência diminuiu, mas o governo peruano insiste que o sistema "sem rosto" ainda é necessário.

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