São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Cidade é vista por câmera de orifício de Angerami
FERNANDO OLIVA
A opção de Angerami foi trabalhar com um tipo de câmera que usa o princípio básico da fotografia para captar uma imagem. Traduzindo, usa uma caixa escura que possui, de um lado, uma superfície sensível à luz (papel ou chapa de raios X) e, no lado oposto, um orifício que permite a entrada de luz. Como não há nenhum tipo de lente (acessório que possibilita o foco, a aproximação ou a ampliação do campo de visão), a Angerami só resta enquadrar a cena e regular a exposição (por quanto tempo o orifício vai ficar aberto). O efeito da distorção é dado pela variação na curvatura do papel, que normalmente atinge 121°. O que chama atenção -e causa estranhamento- nas imagens produzidas por Angerami é a ausência de personagens humanos. Junto às colunas do prédio da Fundação Bienal, embaixo do célebre vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) ou na entrada da galeria da Consolação, nunca há ninguém. Como a exposição precisa ser sempre muito longa (o orifício para entrada de luz fica aberto por muito tempo), a "pin-hole" não consegue registrar pedestres e, menos ainda, veículos. O resultado pode ser visto, por exemplo, numa foto da avenida Paulista "batida" às 13h, em que não aparece nada além de asfalto e arranha-céus. Parece que foi feita durante a madrugada. A produção do fotógrafo com suas câmeras de orifício já arrebatou o Prêmio Estímulo para ensaio fotográfico (1993) e, no ano seguinte, o Prêmio Nascente. Câmera de 8,5 kg Paulo Angerami, que também é matemático, constrói as próprias câmeras desde 1992. A primeira, feita em madeira, tinha 72 cm de comprimento e parecia uma arapuca. Como só permitia uma foto por vez, a cada nova chapa ele tinha que voltar ao laboratório para recarregá-la. No ano seguinte, precisou de três meses para aprimorar seu equipamento. Apelidada "Bambina", a nova "pin-hole" pesava 8,5 kg e permitia 25 instantâneos por saída. A tiracolo, um tripé de 17 kg. Em 1994 veio o maior salto tecnológico da carreira de Angerami. O projeto da "Bambininha" foi motivado pela quantia recebida no Prêmio Estímulo de 1993, cerca de US$ 3.000. A nova "pin-hole", última criação do fotógrafo, pesa apenas cerca de 2,5 kg. Limitação Nessas condições, cada foto leva cerca de 30 minutos para ser feita, e o máximo de sofisticação que Angerami se permite são os três diferentes tamanhos do orifício para entrada de luz: 0,5 mm, 0,7 mm ou 1 mm de diâmetro. Foco é um elemento que não consta do vocabulário das câmeras de orifício. Apesar disso, Angerami não acha que sua opção seja limitante. Ao contrário. "Minhas 'pin-holes' têm mais possibilidades que as câmeras comuns. Eu posso deformar uma paisagem com muito mais definição", diz. "É trabalhoso, mas tenho muito mais liberdade." Quem visita a exposição também vê, no chão, painéis que dissecam o processo utilizado para fazer as fotos. "Como matemático, não quero só apresentar o resultado, mas mostrar de que forma utilizo as técnicas que aprendi." O didatismo da mostra "Dentro e Fora" continua com as maquetes criadas para resgatar a perspectiva do fotógrafo no momento de fazer a imagem. São ampliações (50 cm de largura por 60 cm de altura) em estruturas de madeira que tentam nos aproximar da situação vista por Angerami. O projeto é aumentá-las para três metros de largura por quatro de altura, em estrutura de alumínio. Aí sim, reproduzindo a perspectiva do fotógrafo. Para tanto, Angerami precisa de R$ 5.000 a R$ 6.000. Por ampliação. Exposição: Dentro e Fora De: Paulo Angerami e Neide Jallageas Onde: Espaço Eugenie Villiem, Faculdade Santa Marcelina (r. Emílio Ribas, 89, Perdizes, tel. 011/826-9700) Quando: seg a qui, das 8h às 21h; sex, das 8h às 18h (até 30 de abril) Quanto: entrada franca Texto Anterior: Londres chama para o cenário pós-liberal Próximo Texto: Jallageas descreve o caos urbano Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |