São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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Evento em Filadélfia lança modelo social para os EUA

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

As principais forças políticas e empresariais americanas apresentaram ontem em Filadélfia (Costa Leste dos EUA) um novo modelo de desenvolvimento social.
Esse modelo prevê que empresas e governo estimulem com recursos humanos e materiais o movimento de voluntários para preencher deficiências públicas em educação, saúde, combate às drogas ou treinamento profissional.
Os milhões de voluntários receberiam folgas remuneradas das empresas para serem tutores, dando aulas, ou mentores, conselheiros permanente de jovens em risco. A Timberland, que fabrica calçados, prometeu conceder 40 horas por ano para que seus funcionários prestem serviços comunitários. A idéia é seguida pela AT&T.
A Coca-Cola se comprometeu, por exemplo, a treinar esses voluntários, com noções de pedagogia e psicologia. A McDonald's lidera esforço para que lanchonetes façam descontos nas refeições para crianças em risco, estendendo o benefício a tutores e mentores; a Pfzeir se comprometeu a doar milhões em remédios; a LensCrafter asseguraria óculos e exames de vista grátis.
As lojas Kmart separaram US$ 50 milhões para realizar dentro de suas 2.000 filiais educação contra drogas. O Banco de Boston informou que vai empregar 500 tutores e mentores para trabalhar nos bairros marginalizados, contaminados pela violência e drogas.
O "Encontro dos presidentes pelo futuro da América", o evento de ontem, reuniu Bill Clinton e seus antecessores George Bush, Gerald Ford e Jimmy Carter -por motivos de doença, Ronald Reagan foi representado por sua mulher, Nancy.
Num exemplo do que considera a nova parceria baseada nos voluntários, Clinton propôs uma ajuda aos estudantes universitários. Caso se disponham a prestar serviços comunitários, eles teriam redução no pagamento dos empréstimos bancários que fizeram para cursar a faculdade.
Responsável pela convocação dos dirigentes das mais importantes empresas e organizações não-governamentais, o coordenador do encontro é o general Colin Powell -filho de família de imigrantes pobres, ele é favorito para as próximas eleições presidenciais.
"É preciso redefinir o conceito de cidadania", disse Clinton, que se uniu ao desfile de personalidades que participaram de mutirão num bairro pobre de Filadélfia, limpando as paredes sujas com grafites e terrenos baldios.
A idéia do programa é combinar governo, empresas e comunidades, por meio dos voluntários, na ajuda a 40 milhões de americanos que vivem abaixo da linha de pobreza -15 milhões deles crianças.
Até 2000, pelo menos 2 milhões de crianças teriam tutores e mentores, ajudando a evitar as drogas e a violência e a ir bem na escola.
O modelo é baseado na experiência bem-sucedida de uma instituição que promove mentores chamada "Big Brothers/Sisters" (grandes irmãos/irmãs). O público atendido revelou expressiva queda de inclinação ao crime.
Os EUA têm a maior população carcerária do planeta, cerca de 1,7 milhão -ao custo mensal de US$ 2.000 cada preso.
É um dos fatos por trás da sensação de fracasso nos EUA diante da marginalidade, num período em que a geração de emprego é dificultada pelos impactos tecnológicos misturados à globalização.
O fracasso se soma ao temor com o futuro, porque são cortadas verbas assistenciais que servem como um colchão contra o desemprego. Segundo cálculos de organismos não-governamentais, os cortes vão jogar na marginalidade pelo menos 1 milhão de crianças.

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