São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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BOM SENSO COM BACTÉRIAS

O Ministério da Saúde volta a investir contra as associações entre antibióticos e outros medicamentos. Essa novela já é velha de cinco anos. Uma batalha de interesses comerciais se sobrepôs ao interesse maior da saúde pública nacional.
Segundo especialistas, essas combinações medicamentosas, quando não inócuas (o que é raro), podem prejudicar o paciente. Se é necessária a prescrição de mais de uma droga, elas devem ser ministradas separadamente, cada uma na dose ideal receitada pelo médico e não pela vontade dos laboratórios farmacêuticos.
Parece incrível que, mesmo tendo tomado essa decisão em prol da melhoria da saúde pública no Brasil -e que é praticamente unânime entre os médicos-, o ministério simplesmente custe tanto a implementá-la.
Cabe lembrar ainda que a proscrição das associações com antibióticos, de resto, absolutamente comum no Primeiro Mundo, é apenas um pequeno problema dentro do grande desafio que é o controle efetivo das terapias antibacterianas.
O advento dos antibióticos foi uma das mais importantes revoluções na medicina. Doenças antes fatais passaram a ser curáveis. Mas, como tudo no mundo, o abuso dessas drogas cobrou o seu preço. A má utilização dos fármacos, por parte de médicos e de pacientes, acabou resultando no surgimento de cepas de bactérias resistentes à maioria daqueles medicamentos. Para tentar contornar o problema das bactérias mutantes, são necessários cada vez mais investimentos em pesquisa para criar drogas cada vez mais caras.
No Brasil, os péssimos hábitos da chamada empurroterapia (quando o balconista "receita" um remédio) e da automedicação agravam em demasia esse problema. Uma das melhores receitas para criar cepas resistentes é descontinuação do tratamento assim que os sintomas da moléstia aparentemente desaparecem.
Já passa da hora de, a exemplo do que ocorre na quase totalidade do mundo civilizado, exigir a apresentação e retenção de receita médica para a venda de todos os antibióticos. É uma exigência básica da chamada farmacoeconomia (pensar os custos da medicina em médio prazo), da saúde pública e do bom senso.

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