São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 1997
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A HORA DOS PROFISSIONAIS

Anos atrás, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão "Belíndia" para designar o Brasil. Significa que convivem num mesmo espaço territorial uma "Bélgica" muita rica cercada por um punhado de "Índias" absolutamente miseráveis.
De certa forma, essa situação anômala se repete até no esporte nacional, o futebol, que é uma ilha de excelências (os seus jogadores) em um mar de incompetências e desmandos (a sua estrutura institucional).
Esse retrato, que já se podia intuir das arquibancadas, emerge com clareza da série "País do Futebol" que esta Folha vem publicando.
Para resumir e simplificar: o futebol é, no Brasil, um esporte profissional conduzido por amadores. Não chega a ser, de resto, uma novidade para quem acompanha o esporte.
Mas o profissionalismo ganhou uma dimensão tão extraordinária que tornou essa convivência com os amadores um entrave quase insuportável. O futebol profissional é, hoje, muito mais "business" do que esporte. Movimenta bilhões de reais, seja em salários, seja em "merchandising", seja em direitos de transmissão de seus eventos pela televisão e assim por diante.
Não se pode admitir um corpo de profissionais dirigidos por amadores. Não é assim que o "business" funciona no mundo moderno. Mas, no futebol, continua sendo assim. Torcer fanaticamente para, por exemplo, o Corinthians não é qualificação bastante para comandar o clube. Em muitos casos, o fanatismo é até mesmo contraproducente.
Essa era chega ao fim em várias partes do mundo, mas, no Brasil, seus representantes resistem ainda duramente a uma modernização que lhes retirará poder, fama e, no caso dos menos honestos, até as perspectivas de excelentes lucros.
Já está mais do que na hora de confinar a paixão às arquibancadas, entregando a direção dos negócios aos verdadeiros profissionais.

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