São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IBF lucrou R$ 21 mi com outros papéis

DA REPORTAGEM LOCAL

Liquidada no final de fevereiro pelo Banco Central, a IBF Factoring, epicentro do escândalo investigado pela CPI dos Títulos Públicos, não restringiu os seus lucros a operações de compra e venda de papéis emitidos para pagar precatórios.
A empresa do "laranja" Ibraim Borges Filho movimentou e lucrou milhões com debêntures de empresas de energia elétrica dos Estados e moedas de privatização, as chamadas "moedas podres" (títulos federais usados na privatização de empresas estatais).
A documentação contábil da IBF, à qual a Folha teve acesso, revela que as operações com esses papéis deram à IBF cerca de R$ 21 milhões em lucros.
As negociações foram feitas com as mesmas corretoras e distribuidoras investigadas pela CPI dos Títulos Públicos: Ativação, Olímpia, Split, JKL e Valor.
As operações com TDAs deram à IBF Factoring um lucro de R$ 2,5 milhões. TDAs são títulos fornecidos para proprietários que tiveram suas terras desapropriadas pelo governo.
As operações com debêntures da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e da Cemat (Centrais Elétricas do Estado de Mato Grosso) deram à "laranja" IBF lucro de R$ 8,1 milhões.
A empresa obteve também lucro de R$ 10 milhões por meio de operações com "moedas podres".
No livro-caixa da IBF constam, além da data em que foram realizadas as negociações, o código das corretoras que participaram dos negócios, os valores da operação, o volume de papéis e o lucro obtido.
No dia 18 de setembro de 1996, a IBF comprou da Split R$ 260 mil em TDAs e vendeu os papéis à Olímpia por R$ 432 mil. Apurou lucro de R$ 172 mil.
Com as mesmas corretoras, a IBF realizou uma operação, no dia 26 de março de 1996, com debêntures da Sabesp. Obteve lucro de R$ 405,3 mil.
As outras operações da IBF envolveram papéis da Sunaman, Eletrobrás e títulos que representam dívida da União com o Consórcio Amurada e que foram emitidos por decisão do Supremo Tribunal Federal. Todos esses são títulos usados na privatização.
Ao desistir de fiscalizar essas operações, a CPI decidiu não apurar eventual crime nas operações da IBF com outros títulos.
Não se sabe se a IBF realizou essas operações simplesmente para "lavar" dinheiro, criando prejuízos fictícios para outras corretoras, ou se os lucros que obteve pertenceriam, na verdade, a outras instituições financeiras interessadas em sonegar impostos.
Com relação às debêntures, os lucros da IBF poderiam, na avaliação de alguns senadores, ter sido remetidos para campanhas políticas.
Todas as negociações com títulos da IBF ficam registradas no Cetip (órgão privado que regulamenta a transferência de titularidade dos papéis).
Para descobrir os tomadores finais dos papéis, a CPI dos Precatórios deveria requisitar a ela o rastreamento dos papéis. Não o fez por entender que a investigação extrapolaria os limites da decisão do Senado que criou a CPI.
No entanto, o relator Roberto Requião já decidiu sugerir, em seu relatório final, que sejam criadas formas de limitar a emissão de debêntures por empresas ligadas a governos.
Os Estados que as emitiram deram como garantia de seu pagamento ações de empresas de energia e saneamento, como forma de privatizar essas empresas de forma indireta e menos complicada.

Texto Anterior: CPI desiste de investigar debêntures
Próximo Texto: CPI atrapalha outra IBF
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.