São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Prefeitura emitiu para pagar outras despesas, diz vereador

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo emitiu deliberadamente mais títulos do que precisava para pagar precatórios porque a intenção do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) era gastar o dinheiro com outras despesas -obras, por exemplo.
A conclusão é do vereador Adriano Diogo (PT), que acredita ter produzido a prova documental da afirmação repetida várias vezes, mas, até agora, não comprovada.
A prova, segundo Diogo, está na análise das previsões de gastos com precatórios contidas nos orçamentos da prefeitura entre 1993 e 1996 (gestão Maluf). Os dados foram cruzados com o dinheiro apurado com a venda dos títulos.
Resultado do cruzamento: a prefeitura arrecadou 108% a mais com títulos emitidos para o pagamento de precatórios (dívidas judiciais) do que pretendia pagar, entre 93 e 96, segundo Diogo.
"Houve deliberada estratégia de se arrecadar mais do que se pretendia gastar com precatórios, principalmente às vésperas da eleição de 96", afirmou Diogo.
O orçamento de uma administração pública (municípios, Estados e a União) é uma lei preparada pelo governante e enviada anualmente ao respectivo Parlamento para aprovação. No caso do município, o prefeito elabora a proposta, envia à Câmara e a submete à aprovação dos vereadores.
No primeiro ano da gestão Maluf, em 1993, o Orçamento havia sido elaborado por sua antecessora, a prefeita Luiza Erundina de Sousa. Foi também a ex-prefeita quem enviou ao Senado o primeiro pedido para a emissão de títulos para o pagamento de precatórios.
Durante o ano de 93, entretanto, o ex-prefeito Maluf conseguiu aprovar três revisões no Orçamento para aquele mesmo ano.
As obras prioritárias foram reelencadas, disse Diogo, para cumprir compromissos assumidos por Maluf durante a campanha.
Já em 93, segundo Diogo, Maluf se socorreu do dinheiro dos títulos que seriam vendidos para pagar precatórios para demonstrar que a prefeitura tinha recursos para pagar as obras prometidas.
Formalmente, o prefeito só pode acrescentar despesas ao Orçamento se disser de onde virá a verba para pagá-las, ou seja, indicar a dotação orçamentária para o gasto. "Eles colocavam o dinheiro dos títulos como se fosse um aumento de arrecadação e aí desviavam o dinheiro. Chegaram a colocar a emissão de títulos para o pagamento da quinta parcela (dos precatórios anteriores a 1988) no orçamento de 93, quando o pagamento seria feito só em 94."
O vereador está enviando a análise e os dados ao Ministério Público, onde duas investigações estão em curso para averiguar possíveis irregularidades ocorridas na emissão e negociação de títulos para o pagamento de precatórios.
Outro lado
A assessoria do prefeito Celso Pitta (PPB) -que durante a gestão Maluf respondia pela Secretaria das Finanças- afirmou que a prefeitura não admite insinuações de que tenham sido emitidos mais títulos do que o necessário para o pagamento de precatórios.
Segundo a assessoria do prefeito, os números que comprovam os pagamentos têm sido publicados nos jornais pela prefeitura.

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