São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro integra equipe

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MADRI

O brasileiro Affonso Beato, diretor de fotografia de "Carne Trêmula", está na segunda parceria com Almodóvar, com quem já trabalhou em "A Flor do Meu Segredo".
Beato estreou na direção de fotografia em "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha. Depois foi para os Estados Unidos, onde construiu uma longa carreira, da qual constam também filmes no Brasil, no Chile e na Espanha. Em Madri, ele falou à Folha sobre seu trabalho com Almodóvar.
*
Folha - Como começou a parceria com Almodóvar?
Affonso Beato - O Pedro havia decidido, depois de "Kika", mudar a equipe, sobretudo com relação à produção da imagem. Nós temos dois amigos em comum, o diretor da Filmoteca de Madri e o diretor americano Jim McBride, com quem fiz vários trabalhos. Os três se encontraram num festival, e o meu nome surgiu numa conversa. O Almodóvar me chamou, conversamos e daí veio o convite para fazer "A Flor do Meu Segredo".
Folha - Pedro Almodóvar tem fama de ser um diretor "difícil". Como é trabalhar com ele?
Beato - Nesse sentido, é uma repetição do que aconteceu quando eu trabalhei com o Glauber, que também tinha fama de genioso.
Os dois têm em comum um nível muito alto de exigência. Eu me identifico com as maneiras de pensar, planejar e executar do Pedro, que são profissionalíssimas. Ele tem um imenso conhecimento da história do cinema. Podemos discutir referências, e isso é excitante e gratificante.
Folha - Que fatores contribuem para a quantidade e a qualidade do cinema espanhol? Há algum paralelo com o cinema brasileiro?
Beato - A Espanha, da mesma maneira que o Brasil, viveu uma ditadura. Instalada a democracia, a Espanha teve um governo que deu grande apoio ao cinema.
Isso permitiu que surgissem diretores novos e se realizassem filmes aceitos em todo o mundo, tanto por sua qualidade técnica como por suas perspectivas estéticas, formas de linguagem e liberdade criativa.
No caso do Brasil, tivemos a má sorte de ter um governo como o do Collor de Mello que, irresponsavelmente, com base numa proposta neoliberalizante, golpeou o cinema brasileiro sem medir as consequências históricas.
Folha - Para fazer cinema é indispensável o apoio do Estado?
Beato - É absolutamente fundamental. O cinema, apesar de ser uma arte que depende da força pessoal do diretor e da criação, é feito em bases industriais. Um filme tem que ter apoio tecnológico e político, tem que ser distribuído, concorrer em festivais.
Não existe no mundo uma empresa privada que faça isso sem o apoio do Estado. Na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos, há apoio direto do Estado para a produção cinematográfica.

Texto Anterior: 'Carne Trêmula' abomina o amor padrão
Próximo Texto: Índios de SP participam de 'Hans Staden'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.