São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
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Índios de SP participam de 'Hans Staden'

DA FOLHA VALE

Uma "festa antropofágica" reuniu, na última quinta-feira, em Ubatuba (no litoral norte de São Paulo, a 223 km da capital), cerca de 80 pessoas, entre índios e brancos, na inauguração da aldeia que servirá de cenário para o filme "Hans Staden - Lá Vem Nossa Comida Pulando!", de Luiz Alberto Pereira.
Em uma área de 300 mil m2, rodeada por cinco grandes ocas, 25 curumins guaranis da aldeia Boa Vista anteciparam o clima das gravações do filme -marcadas começar no próximo dia 10 de agosto.
Os índios apresentaram cantos e danças guaranis, ao som do violino e do "pau de chuva" (instrumento indígena) do músico da aldeia, Maurício Veramirim.
Cerca de dez índios da tribo de Ubatuba também serão vistos em cenas de "Hans Staden - Lá Vem Nossa Comida Pulando!" como figurantes.
Os guaranis de Ubatuba vão entrar em cena para representar o modo de vida dos índios tupinambás, primeiros habitantes do litoral norte de São Paulo.
Nas filmagens, os índios guaranis deverão se juntar a outros 90 figurantes.
Segundo o diretor Luiz Alberto Pereira, 45, o filme reúne ao mesmo tempo uma visão de suspense e humor em torno dos antropófagos.
Fidelidade
O filme será todo falado em tupi-guarani. Os atores estão tendo aulas com o professor da USP (Universidade de São Paulo) Waldemar Ferreira.
Embalada por um clima de "comédia de suspense", como define o diretor, o filme pretende ser o primeiro do gênero a mostrar de forma fiel o aspecto mais polêmico desses índios.
"Nenhum filme mostrou ao pé da letra a história desses índios", disse Pereira.
Com o mesmo bom humor sugerido para o filme, Pereira se refere a um "dia da pesada" para descrever as futuras gravações do "grande banquete" tupinambá.
"A frase que dá nome ao filme é famosa na antropofagia e foi justamente o que o chefe dos tupinambás pensou ao se deparar com o viajante alemão", afirmou o cineasta.
Mercadoria
Hans Staden poderia ter virado banquete, mas sobreviveu à aventura e virou escritor. O filme se baseia em seu livro de memórias, chamado "Duas Viagens ao Brasil".
Tudo começou quando o navegador naufragou no litoral de Santa Catarina, em 1550.
Dois anos depois, Staden chegou ao Forte de Bertioga. Lá permaneceu até 1554.
Dez dias antes de seu retorno à Europa, o alemão caiu em uma emboscada e foi capturado pelos tupinambás.
Staden utilizou vários artifícios para sobreviver.
Primeiro, ele disse que era francês, povo aliado dos tupinambás, mas logo foi desmascarado.
O viajante apelou então para o misticismo e se transformou no curandeiro e no "adivinho" da tribo.
Após nove meses de convívio com os índios, o navegador foi trocado por um baú de mercadorias e resgatado pelo capitão de um navio francês. Staden voltou à sua terra natal e escreveu o livro.

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