São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O RISCO DAS TREVAS

A simples possibilidade de que os blecautes ocorridos recentemente se tornem uma rotina, afetando várias regiões do Brasil e a vida de milhões de pessoas, é algo inconcebível, que coloca a população diante da ameaça diária das trevas justamente no momento em que o país dá sinais de que está empenhado em modernizar-se.
O problema, que pegou muitos de surpresa, mostrou em poucos dias ter uma extensão e uma gravidade que eram desconhecidas de grande parte da opinião pública. Pior ainda, tomou-se conhecimento, por meio de declarações e de artigos como o do empresário Antonio Ermírio de Moraes, publicado domingo pela Folha, de que não há solução satisfatória para a questão em médio prazo.
Diante da perplexidade geral, uma coisa, porém, é certa. A Eletrobrás, responsável pelo fornecimento de energia no país, perdeu a sua capacidade de planejamento. Surpresas como as ocorridas nos últimos dias, quando cidades inteiras mergulharam na escuridão, só são imagináveis quando há uma incompetência acumulada durante anos.
Seria difícil encontrar um exemplo mais palmar da inoperância do Estado brasileiro, paquidérmico e incapaz de atender às demandas mais elementares da sociedade.
É preciso examinar com urgência e a fundo a questão energética no país. Mas também não se pode esperar para agir. Medidas paliativas, capazes de minorar o risco de novos blecautes, devem ser implementadas logo.
Uma campanha de orientação pública contra o desperdício de energia seria uma das opções. Trata-se, sem dúvida, de reeducar os hábitos perdulários dos brasileiros, embora o bom senso obrigue a não esperar grandes mudanças de comportamento da noite para o dia.
Outra medida a ser estudada é a mudança de horário de funcionamento de setores da economia. Uma terceira, a reativação de usinas térmicas que estão desmobilizadas na região Sul do país. Tudo isso, no entanto, não deve fazer com que o problema deixe de ser tratado com a maturidade que o momento exige. Não há desenvolvimento possível sem energia que o sustente.

Texto Anterior: JULGANDO IDEOLOGIAS
Próximo Texto: OÁSIS NAS CIDADES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.