São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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O aviso no placar

JANIO DE FREITAS

Se não compra, não ganha.
Esta é uma das evidências presentes em cada uma das três grandes derrotas sofridas pelo governo, nos três confrontos que teve nos últimos dias. Outra evidência é a absoluta incapacidade do governo, e particularmente do seu centro no Planalto, de avaliar com alguma competência o quadro à sua frente e o potencial do adversário.
Mesmo que quisesse, o governo não conseguiria esvaziar, pelo suborno, a Marcha dos Sem-Terra. Nem quis, porque simplesmente não admitia que a marcha, apesar de todas as demonstrações de organização e perseverança dos sem-terra, pudesse acontecer de fato. Até o último instante, Fernando Henrique Cardoso nem sequer se dispunha a marcar ou recusar a audiência pretendida pelas lideranças da marcha, para a ocasião de sua chegada a Brasília. O governo se mostrou cego e surdo, refletindo a convicção de invencibilidade sempre exibida por Fernando Henrique Cardoso.
Em seguida veio a votação da suposta reforma administrativa na Câmara. Não faltou, mesmo no bloco dos governistas, quem advertisse para o risco de submeter a emenda à votação, quando era notório o mal-estar de muitos parlamentares em relação ao governo. Quem ousaria, porém, derrotar o governo na Câmara tão obediente às conveniências do Planalto? Irritado com o contravapor só para ele surpreendente, Fernando Henrique Cardoso atacou o Congresso e os seus próprios parlamentares. Mas, de volta à realidade de suas vitórias, o governo prepara a votação restante com a retomada da barganha de cargos e outros favorecimentos em troca de votos. O reaparecimento de Sérgio Motta em campo já está no noticiário.
A obtusidade com que os cabeças do governo desdenharam de maiores problemas com o leilão da Vale, supondo que nada passaria de liminares idiotas e juízes subservientes, só poderia ser classificada por modos muito pejorativos para numerosas pessoas. Não vale a pena. É suficiente notar, nesse terceiro episódios, os mesmos traços comuns aos dois anteriores: a incompetência para perceber o óbvio, por força da pretensão de superioridade esmagadora, e a perplexidade quando a barganha não se aplica.

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