São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Mil paralelepípedos rendem R$ 25

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTALUZ (BA)

Cerca de 800 crianças e adolescentes trabalham informalmente nas pedreiras de Santaluz (258 km de Salvador), na Bahia, cortando granito bruto em pequenos pedaços, paralelepípedos e meio-fio em troca de R$ 1 a R$ 25 por semana.
Para receber a remuneração máxima, os trabalhadores têm de cortar mil paralelepípedos. Sozinhos, os adolescentes mais experientes atingem essa meta em quatro dias.
As crianças de 7 a 11 anos recebem R$ 1 por semana para cortar pelo menos 100 kg de brita.
O pagamento é realizado quinzenalmente por cerca de 30 intermediários que compram os produtos para revender às prefeituras e empresas de material de construção.
Os intermediários fazem o pedido e, a cada três dias, vão nas pedreiras carregar os caminhões.
Os 30 intermediários que trabalham em Santaluz têm um lucro bruto de 500% na revenda.
Nas pedreiras, o milheiro do paralelepípedo custa R$ 25. "Nós revendemos o paralelepípedo para as prefeituras e empresas de construção civil por R$ 150 o milheiro", disse Jorge Eduardo Evangelista dos Reis, 38, intermediários.
Vale dinheiro
Os trabalhadores não recebem dinheiro. Ganham vales que são trocados por alimentos. "Somos obrigados a usar todo o pagamento nas compras, porque os supermercados não dão troco", disse Samuel dos Santos Araújo, 21.
Há quatro anos trabalhando nas pedreiras, Roberício do Carmo Santos, 12, disse que há dois meses não vê uma nota de R$ 1. "A moeda corrente em minha casa é o vale." Seu pai e três irmãos também trabalham nas pedreiras.
Os vales não dão direito de compra para carne, roupas, pão, aves e peixes. "Nossa refeição se resume a arroz, feijão, farinha e ovo", disse Pedro Pereira de Souza, 44.
Mas, mesmo com as restrições, os pais estimulam o trabalho. "Os vales são importantes para ajudar no orçamento familiar", diz Maria Leonardo dos Santos, 43. Seus dois filhos -Analize, 10, e Donino, 9- recebem R$ 4 por semana.
O trabalho mais difícil (detonação com explosivos) fica para quem tem de 12 a 17 anos e adultos.
O promotor de Santaluz, Fábio Ramiro, disse que a Delegacia Regional do Trabalho iniciou a notificação dos proprietários das fazendas onde estão as pedreiras.
Ele disse também que pretende visitar todas as pedreiras para fazer uma radiografia da situação. "Promotores de cidades vizinhas também vão participar."
Segundo ele, o Ministério Público está movendo uma ação civil contra fazendeiros que exploram menores também no corte e beneficiamento do sisal.

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