São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Leandro, 10, e Joni, 5, sustentam mãe

DO ENVIADO ESPECIAL

Leandro de Jesus, 10, e Joni de Jesus, 5, são filhos do Bom Futuro. Nasceram no garimpo e não conhecem outro lugar. Não dá tempo, segundo eles. Leandro e Joni são arrimos de família -trabalham até 12 horas por dias para sustentar a mãe.
Leandro e Joni trabalham porque não têm pai e a mãe vive com febre quase que em tempo integral em consequência da malária que contraiu.
O pai dos garotos morreu soterrado em um barranco no Bom Futuro, há cinco anos.
Os dois catam restos de cassiterita que caem de uma máquina da Ebesa que separa o metal da terra.
O sonho de Leandro está resumido no diálogo acima. Não se imagina jogador de futebol ou policial. Quer ser lixeiro.
Seria um avanço quando se vê o que fazem todo dia. Com uma bateia (um cone de metal com um furo no meio) ou uma panela furada, eles ficam sob uma máquina que separa a cassiterita, catando os grãos de minério que caem fora por serem pequenos demais.
Ficam o tempo todo debaixo da água que cai da máquina, no meio da lama que se forma.
É um trabalho que só as crianças podem fazer, segundo Evandro Afonso Mesquita, 28, coordenador da Comissão de Combate ao Trabalho Infantil em Rondônia.
Como ele é feito debaixo de uma máquina escorada por troncos de madeira, adultos podem remexer demais o solo e provocar o desmoronamento. É por isso que a Ebesa só permite que crianças trabalhem com a bateia, diz Mesquita.
Os sonhos de Leandro são prosaicos. O que ele mais gosta de fazer é "limpar a casa".
A casa é um barraco de madeira, chão de terra, de dois quartos, onde vivem as duas crianças, três irmãos, a mãe e outros três sobrinhos. Todos dormem em dois jiraus, camas feitas de varas.
Os Jesus são uma família de desbravadores. Vieram há 23 anos do Espírito Santo tentar a sorte em Rondônia. Primeiro, foram a Ji-Paraná, onde o pai comercializa borracha e arroz.
Há dez anos, o negócio foi a pique. "Foi aí que ele veio tentar a sorte no garimpo", conta Jacira de Jesus, 25, a filha mais velha. Ganhava para comer, segundo a filha. Quando morreu soterrado, as crianças tiveram que começar.
Irani de Jesus, 40, mãe dos meninos, diz que não tem saída. "Na cidade eu não aguento tratar desse monte de menino", diz referindo-se aos três filhos e três netos. "Fazer o quê? Ganhar uma miséria como empregada? Aqui os meninos trabalham."

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