São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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SP emprega meninos em entreposto

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalho infantil não é exclusividade dos rincões do país. Em São Paulo, nos varejões da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), crianças com menos de 14 anos trabalham em bancas de flores, frutas e peixes, a menos de 10 km do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual.
A Ceagesp é um órgão da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento. O espaço é alugado para os comerciantes, que empregam ilegalmente as crianças.
O Ministério Público do Trabalho aponta os setores de comércio e serviços e a indústria informal como outros focos desse trabalho.
A Folha encontrou menores de 14 anos que trabalham na Ceagesp só nos finais de semana, ganhando de R$ 20 a R$ 30 no período.
É o caso do limpador de peixes Clauber de Carvalho, 13. Ele está na 6ª série, quando deveria estar na 7ª. O garoto começou a trabalhar aos 7 anos, levado pela mãe, que também trabalha na banca.
Ele gasta 1h30min de trem para ir da sua casa, em Jandira (Grande São Paulo), até o varejão (zona oeste) e trabalha das 5h30 às 13h.
Depois do serviço, Clauber diz que não tem vontade de brincar.
"Só brinco um pouco durante a semana, depois da aula." Apesar de ganhar R$ 30 por 15 horas de trabalho em dois dias, Clauber diz que gosta de trabalhar.
"Prefiro assim, do que ficar sem dinheiro", mas confessa que não entende por que trabalha tanto. "É meio sem motivo mesmo".
A vendedora de flores Tatiane Lourdes Martinez, 11, também mora longe e ganha pouco.
Desde 9 anos trabalha na banca. Ela entra às 5h ou às 7h e sai por volta das 13h. Ao final do dia, leva R$ 10 para casa e entrega à mãe.
Ela mora em Osasco e, sozinha, toma ônibus e trem até a Ceagesp. Apesar de estar cursando a 3ª série (dois anos atrasada), Tatiane diz que o trabalho não atrapalha. "Eu é que sou muito bagunceira."
A socióloga Suzanna Sochaczewski, coordenadora da pesquisa "O Trabalho Tolerado de Crianças de 14 anos em Seis Capitais Brasileiras", do Dieese, diz que há pelo menos três ilegalidades nessas bancas. "São menores de 14 anos, parte da jornada é noturna e, em alguns casos, superior a 12 horas."

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