São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Menor trabalha no quintal em Franca

DA FOLHA RIBEIRÃO

Família emprega filhos em Franca
Mesmo depois de deixarem as indústrias, crianças ainda costuram sapatos em Franca (401 km ao norte de São Paulo). Agora informal, a atividade passou a ser feita nos quintais das casas na periferia.
A forma como a cadeia produtiva da indústria calçadista local está formada faz com que a família passe serviço para a criança, já que ela é "contratada" pelas empresas terceirizadas para realizarem os serviços pedidos pela indústria.
A Folha conversou com A.S., 47, uma operária sem contrato que sustenta sete crianças. A princípio, negou que passasse trabalho para as crianças. Depois, disse que não conseguiria sobreviver, nem mantê-las, sem a ajuda delas.
Em dezembro de 1996, A.S. recebeu R$ 35. "A maioria das pessoas ou coloca a criançada na banca ou não dá para sustentar a casa."
Para o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Antonio José Martins, 49, além da razão econômica, o trabalho infantil está encravado na cultura de Franca. "Quando a família tem crianças em casa pode apelar para elas, elevando a produção e os ganhos."
Foi esse o motivo de Regina Aparecida de Oliveira Bernardes, 52, ter colocado, de forma precoce, seus seis filhos para trabalhar nas "bancas" a partir dos 10 anos.
"Além de receber, o menino não fica na rua pensando em malandragem." Hoje, só seu filho Antonio, 16, costura sapatos, mas reduziu sua jornada diária pela metade.
Ele é um dos meninos atendidos pelo Pró-Criança. O projeto conta com apoio financeiro de indústrias e estabeleceu programas de combate ao trabalho infantil, auxílio a escolas e atenção às famílias.
Com a assessoria da Abrinq, 52 indústrias se uniram para custear a empreitada, que consome R$ 30 mil por mês.
Para as crianças atendidas pelo projeto estão disponíveis cursos de mecânica e datilografia. As empresas participantes firmaram um compromisso de extinguir o trabalho de crianças em Franca, inclusive com bolsas de estudo.
Mas, para Milton da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados de Franca, o programa foi criado para reduzir as pressões dos EUA. O sindicato das indústrias, por sua vez, nega que tenha havido problema com o mercado externo.
Neste ano, o projeto repassará para escolas públicas 80 computadores doados pela Associação Paulista do Ministério Público e pretende criar, com a Companhia Telefônica do Brasil Central, um centro de formação técnica.
A empresa participante terá um selo do Instituto Pró-Criança, aferindo que não há trabalho infantil.

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