São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Crianças deixam escola após 4ª série

BRUNO BLECHER
DO ENVIADO ESPECIAL

Como no resto do país, trabalho não rima com escola para as crianças da região produtora de fumo do Rio Grande do Sul.
Leandro Sestari, secretário de Educação de Gramado Xavier, município recém-emancipado que fica a 75 km de Santa Cruz do Sul, começou a trabalhar com fumo aos oito anos.
"Era um orgulho ir com o pai para a lavoura. Mas, em casa, a escola sempre foi prioridade", afirma ele.
Para Sestari, a criança deve ser encaminhada ao trabalho desde cedo, mas em serviços compatíveis com seu físico e sem prejudicar seu lazer e suas atividades escolares.
"O problema", acha o secretário, "é que nem sempre existe bom senso dos pais".
Ele cita, como exemplo, os meeiros da região que, por necessidade de mão-de-obra, acabam segurando seus filhos na lavoura.
Quarta série
Os números impressionam. Gramado Xavier é um pequeno município, com uma população de apenas 3.730 habitantes.
Entretanto, pode contar cerca de 50 crianças que abandonaram a escola após a conclusão da quarta série, segundo dados da própria Secretaria Municipal de Educação.
"Esses jovens acabam servindo de suporte para a subsistência de suas famílias", diz o secretário Leandro Sestari.
O ingresso prematuro das crianças no trabalho, segundo ele, acaba acelerando a evasão escolar.
Madalena Meireles, 15, largou a escola no ano passado para ajudar o pai, Isaias, na cultura do fumo.
Meeiro, Isaias, 35, conseguiu tirar apenas R$ 2.200 com o fumo na safra passada.
"Foi o que me restou depois de pagar adubos, venenos e a parte do proprietário da terra."
Para tocar a lavoura, Isaias conta com o trabalho de toda a família -o que significa pai, mãe, mulher e quatro filhos.
Chuvas
No pequeno povoado de Rio Pardinheiro, em Gramado Xavier, a Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Coronel Oscar Rafael Jost costuma ficar às moscas nos dias de plantio, em setembro.
"Depois das primeiras chuvas, os alunos somem", diz a professora Maria Conceição Sbruzzi.
Junior de Oliveira, 10, aluno da quarta série, ajuda o pai a surtir (classificar) e atar fumo.
Também colabora com a economia da familia na época do plantio e da colheita.
Seu colega Joelmir Anderson de Freitas Pimenta, 10, começou a trabalhar aos sete anos.
Ele ajuda a família em várias tarefas, mas não mexe com veneno. "O pai não deixa", diz o menino.

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