São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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"O Sequestro" narra bastidor

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
DA REDAÇÃO

Não é o livro definitivo sobre o assunto, mas "O Sequestro - Dia a Dia", escrito por Alberto Berquó, ajuda a compreender melhor "Que É Isso Companheiro?" -livro e filme.
Baseado em entrevistas concedidas pelos realizadores do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick e em jornais publicados à época, "O Sequestro" narra a semana da ação, que ocorreu entre 1º e 7 de setembro de 1969.
A delimitação do período facilita a compreensão da ação em si, mas a principal contribuição é o registro, numa linguagem jornalística, rápida, da idéia e de fatos marcantes do episódio -do ponto de vista dos sequestradores.
Aí entra o interesse do livro: o papel de cada militante é visto tendo como preocupação o ato do sequestro.
Sobre o livro de Fernando Gabeira, tem a vantagem de não ser um relato pessoal -Gabeira emprestou a casa em que morava para abrigar o grupo, mas não era muito mais que um colaborador do jornal da DI até a ação.
Sobre o filme, serve como registro de uma versão não romanceada, para que o hoje deputado pelo Partido Verde do Rio de Janeiro não entre para a história como personagem central do sequestro do embaixador.
Lance de marketing
Além disso, há os bastidores. O sequestro nasce na segunda quinzena de agosto, como um lance de marketing, buscando aproveitar a Semana da Pátria.
Um pequeno grupo de esquerda, que atendia pelo nome de DI, formado por estudantes, decide libertar o líder das manifestações estudantis de 1968, Wladimir Palmeira, que hoje é deputado federal pelo PT.
A DI entrara para a luta armada depois de fazer uma análise correta (de que o país evoluiria para uma ditadura mais violenta), mas com uma conclusão equivocada (de que a alternativa seria a luta armada).
Mas ainda era uma iniciante, quando conseguiu a adesão da ALN de Carlos Marighella à ação.
Só depois do contato com os experientes comunistas da ALN é que o DI percebeu que o embaixador valia muitos mais que Wladimir Palmeira, até chegarem ao número 15 -o que permitiu a liberação, entre outros, do velho comunista Gregório Bezerra e de José Dirceu, hoje presidente nacional do PT.
Tudo isso sem esquecer de contar como a DI virou MR-8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro.
No começo, o livro tropeça num excesso de flashes sobre fatos dos primeiros dias, dando voltas no assunto principal.
Mas, no meio da leitura, outra idiossincrasia é mais interessante: um pequeno resumo de importantes sequestros políticos que marcaram a história mundial, tanto em ações do governo quanto de opositores.

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