São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Blair 'revive' Margaret Thatcher

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

Uma vitória dos trabalhistas na eleição de hoje vai endossar, ironicamente, os avanços na economia realizados durante os 18 anos de governo conservador, iniciados por Margaret Thatcher.
Em nenhum momento, a campanha de Tony Blair questionou os méritos da administração conservadora. Sua mensagem para o eleitorado não é de ruptura, mas de continuidade, com uma liderança mais firme.
Blair propõe também o renascimento do país como uma potência influente no cenário mundial.
"Ou nós somos líderes de nações ou não somos nada. Este tem sido o destino do Reino Unido durante séculos e deve voltar a ser", disse Blair semana passada, em discurso para banqueiros e empresários.
As frases poderiam ter saído da boca de Thatcher.
O líder trabalhista acusa os conservadores de terem levado à decadência as Forças Armadas do país, "as melhores do mundo".
Muito diferente do mesmo Tony Blair que, na década de 80, como seu partido, defendia o abandono das armas nucleares.
"Patriota"
Margaret Thatcher ficou mais distanciada da campanha eleitoral do que teria desejado o primeiro-ministro John Major.
Jornais especularam sobre um eventual apoio da ex-primeira-ministra a Blair. Tablóides chegaram a dizer que Thatcher enxerga em Blair o potencial de liderança que gostaria de ver no filho, Mark, que tem a mesma idade do candidato trabalhista.
Qualquer possibilidade de apoio a Blair foi negada em seguida, mas a ex-primeira-ministra não desmentiu a afirmação de que considera o candidato trabalhista "um patriota".
Em um contexto mais amplo, pode-se dizer que Margaret Thatcher foi a tradução, no Reino Unido, da vitória da direita sobre a esquerda e da iniciativa privada sobre a propriedade estatal, simbolizada pelo fim da Guerra Fria e pela derrocada do regime soviético.
Blair sintonizou seu discurso com a nova realidade e deixou de lado a pregação socialista, que era marca registrada de seu partido.
Com os sindicatos e a ala mais radical do Partido Trabalhista silenciados, pelo menos por enquanto, Blair espera atrair hoje votos de simpatizantes dos conservadores que querem um líder forte no Reino Unido, como na era Thatcher.
(PHB)

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