São Paulo, quinta-feira, 1 de maio de 1997
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Vaidade, poder e prepotência

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Vaidade, todos temos, em maior ou menor grau. É apenas pecado venial, não conduz necessariamente ao fogo dos infernos. Mas a combinação vaidade/poder, no caso de Fernando Henrique Cardoso, está se revelando maléfica para a psique do presidente.
Conciliador desde criancinha, a se acreditar na biografia de FHC escrita por uma jornalista francesa e há pouco lançada, o presidente se transformou, no Palácio do Planalto, em um prepotente.
Toda crítica ou oposição às suas políticas ou a ele próprio é rebatida com adjetivos que buscam desqualificar críticos e opositores. Já foram "atrasados", passaram a ser "primitivos", viraram "toscos", agora são "histéricos".
Alguns companheiros desta Folha não escondem, nos seus textos, a preocupação com a possibilidade de que a prepotência retórica transborde para o campo institucional. Não compartilho dessa inquietação. Não que acredite nas convicções democráticas de quem quer que seja.
Suspeito até que poucos a quem as circunstâncias históricas ofereçam a chance de violar as regras do jogo resistiriam à tentação de fazê-lo. Alguns companheiros de viagem de FHC são a prova ao vivo e em cores dessa tese.
Mas as circunstâncias históricas contemporâneas não remuneram mais tal crime, ao menos não como ocorreu, na América Latina, entre os 60 e parte dos 80.
A prepotência faz mais mal ao próprio presidente e, por extensão, a seu governo do que às instituições.
Como bem notou Josias de Souza, neste mesmo espaço, na segunda-feira, o presidente assemelha-se mais e mais a seus antecessores, no humor com que encara o cargo. Está perdendo o viço, a graça, o charme, que, se não chegam a ser ornamentos indispensáveis para um bom governo, ao menos ajudam a compor um tipo mais agradável de se ver no comando da República.

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