São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Dependência de dólares deixa país vulnerável

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A média salarial nos EUA cai e as ações nas Bolsas brasileiras sobem. A correlação pode soar tão absurda quanto a influência do vôo de uma borboleta na China sobre a formação de furacões no Caribe, mas ocorreu sexta-feira.
Por causa da dependência do Brasil de dólares para manter o equilíbrio das suas contas externas, todo e qualquer fato que possa alterar o fluxo de investimentos estrangeiros é acompanhado de perto pelos operadores brasileiros.
Ao contrário da influência da borboleta chinesa sobre o clima caribenho, o que está por trás disso não é a teoria do caos, mas o mercado financeiro internacional -ou, cassino global.
No caso de sexta-feira, o combustível para as alterações nas Bolsas de Valores brasileiras foi a divulgação de dois indicadores econômicos que aparentemente nada têm a ver com o Brasil.
Conforme o previsto, a taxa de desemprego nos EUA caiu (ao seu menor nível desde 1973), mas, ao mesmo tempo, o salário médio foi reduzido em um centavo.
Essa queda inesperada da massa salarial reduziu os temores de que a aceleração exagerada da economia dos EUA causasse uma elevação dos juros pelo Federal Reserve (FED), o Banco Central de lá.
Por aqui, foi um alívio geral. Elevação dos juros nos EUA é o anticristo para os operadores das Bolsas brasileiras.
Em geral, quando a taxa de juros sobe, as Bolsas dos EUA caem. E os aplicadores externos podem resgatar o dinheiro aplicado no mercado brasileiro para cobrir eventuais prejuízos em sua terra natal.
"Quando está programado o anúncio de algum indicador importante nos EUA, a Bolsa no Brasil pára. Cinco minutos antes de o índice ser anunciado, ninguém apregoa nada", diz Ernesto Rahmani, diretor da Corretora Tática.
Explica-se: ao contrário da tradição nacional, os principais indicadores norte-americanos têm data e hora para serem divulgados. Todo mundo os recebe ao mesmo tempo, para evitar "inside information" (informação privilegiada).
A taxa de desemprego, por exemplo, foi divulgada pontualmente às 8h30 (9h30 de Brasília). Junto com o índice de inflação no atacado, é o principal indicador da atividade econômica dos EUA.
Os operadores tinham motivos para estarem aflitos. No fim de março, o FED elevou a taxa de juros em 0,25%, para frear o aquecimento da economia dos EUA e controlar a inflação.
Entre economistas e analistas brasileiros, após a visita de um executivo do FED ao Brasil, correu a informação de que o governo norte-americano pretendia elevar os juros em 1,25% ao longo dos próximos 12 meses.
Para o Brasil, poderia ser um desastre: o risco deixaria de ser o de alguns saques nas aplicações e passaria a ser o de debandada dos investidores do mercado brasileiro.
Com juros mais altos, o lucro certo nas operações "caseiras" seria mais atraente do que aplicações no instável mercado brasileiro.
Desde sexta, entretanto, o fantasma de uma fuga abrupta dos dólares -como a que pôs a economia mexicana na lona em 1994- está afastado. Ao menos até a divulgação do próximo indicador econômico norte-americano.
O Fundo Monetário Internacional também já alertou sobre a vulnerabilidade da economia local à entrada de dólares vindos do exterior. Relatório do fundo diz: "Um crescente déficit em contas correntes e um mix de políticas que combina fraqueza na parte fiscal e aperto monetário trazem riscos".

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