São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Garoto reconhece delegado a quem acusa de prisão ilegal

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado João Lopes Neto foi reconhecido pelo adolescente E.S.C., 17, que o acusa de tê-lo mantido preso ilegalmente por quatro dias para que apontasse os autores do crime do bar Bodega.
Lopes Neto era o titular do 15º DP na época em que o caso era apurado por esse distrito policial. A prisão ilegal está sendo investigada pela Corregedoria da Polícia Civil. Ele nega a acusação.
O crime no Bodega ocorreu em agosto de 1996. Assaltantes mataram a estudante Adriana Ciola e o dentista José Renato Tahan dentro do bar. A polícia prendeu nove inocentes e os acusou do crime.
Três dos presos confessaram o crime. Após 60 dias detidos, foram soltos por causa da suspeita de que haviam sido torturados.
Segundo o delegado Antônio Perez Oliva, presidente do inquérito, a apuração é baseada em três artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: privar ilegalmente a liberdade de criança ou adolescente, não comunicar a detenção dele à Justiça e submetê-lo a vexame ou constrangimento.
Cada um dos artigos prevê pena de seis meses a dois anos de detenção. "O delegado João Lopes será chamado a depor para prestar esclarecimentos. Dependendo do que disser, poderá haver indiciamento", disse Oliva.
O adolescente E.S.C. era amigo dos inocentes. Segundo Oliva, um criminosos que também estava preso no 15º DP confirmou ter visto o adolescente detido na cadeia da delegacia. O fato também foi confirmado pelos inocentados.
E.S.C. foi ouvido no inquérito do caso Bodega como testemunha. Sua mãe, Dorotéia das Graças Cunha, depôs e também reconheceu o delegado João Lopes.
Além de João Lopes, o adolescente acusa o investigador Alexandre Ferreira Victal e dois outros policiais de tê-lo agredido na delegacia e reconheceu o delegado Antônio Primante como tendo testemunhado a agressão.
Invasão
Os policiais do 15º DP são investigados em outro inquérito, que apura suposto abuso de autoridade cometido por eles ao invadirem sete casas sem mandado judicial.
O delegado Oliva também preside este caso. Os dois inquéritos ainda não foram concluídos. No primeiro inquérito feito pela corregedoria sobre o caso, três investigadores foram indiciados, acusados das lesões corporais causadas pela tortura dos inocentes, pois a lei que pune o crime de tortura ainda não havia sido aprovada.
O delegado João Lopes Neto negou que tenha prendido ilegalmente E.S.C.. Ele afirmou que o depoimento pôde ser presenciado pela mãe do rapaz e que ele apenas foi ouvido como testemunha.
Lopes Neto também sempre negou as acusações de tortura no caso da prisão dos inocentes pelo crime do bar Bodega. Ele negou também que qualquer um dos seus subordinados tenha participado de sessões de espancamento e tortura dos inocentes presos.
Hoje, Lopes Neto trabalha no Decon (Departamento Estadual de Polícia do Consumidor).
Além dele, seu assistente no 15º DP, o delegado José Eduardo Jorge, o delegado Antônio Primante e o investigador Alexandre Ferreira Victal também negaram as acusações de agressões na delegacia.
Os policiais deverão depor novamente na Corregedoria da Polícia Civil sobre a prisão ilegal de E.S.C. e a violação de domicílios.

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