São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Seguros, a dança continua

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Se o Plano Real balançou muita gente, levando inclusive empresas tradicionais a fechar suas portas por falta de competitividade, para o setor de seguros ele foi uma bênção caída do céu. O plano foi responsável pelo crescimento vertiginoso da atividade, em patamares muito acima do restante da economia brasileira.
Esta explosão, que elevou o faturamento das companhias de seguro de US$ 5 bilhões no final de 93 para mais de US$ 15 bilhões no final de 96, já foi analisada sob praticamente todos os ângulos. As projeções para o futuro não mostram grandes diferenças, sendo unânime a certeza de que o setor deve continuar crescendo, especialmente em função dos seguros de pessoas.
O que ninguém falou é que, neste período extremamente rico em mudanças, algumas se processaram de forma silenciosa e alteraram sobremaneira o desenho do segmento.
Em vários outros artigos, escritos ao longo dos últimos anos nesta Folha, eu venho alertando para a enorme concentração do lucro do setor em poucas companhias, cuja soma de prêmios não tem o mesmo peso no total do faturamento. De acordo com análises bastante acuradas, no final do ano passado as cinco maiores seguradoras em operação no Brasil detinham 80% do lucro proveniente dos negócios de seguros e 71% do total do lucro do setor. São números impressionantes e assustadores se observarmos a soma das dez maiores companhias. Neste caso, a soma do lucro do negócio com seguros ultrapassa os 100%, servindo para compensar os maus resultados de várias seguradoras menores. O lucro total atinge acachapantes 91% do resultado apresentado pela atividade.
Só esse dado é suficiente para mostrar que o mercado caminha para uma diminuição sensível do número de seguradoras em operação. É evidente que várias delas não terão condições de sobreviver, porque não poderão se recapitalizar ou não terão mais espaço dentro do novo cenário, onde os seguros de longo prazo são as grandes vedetes.
Aliás, um dado que ainda não foi observado pelos analistas do mercado, mas que precisa ser salientado enfaticamente é que, das 20 maiores companhias de seguro em operação no Brasil, apenas quatro mantêm o desenho tradicional deste tipo de empresa. Apenas quatro são companhias independentes, que fazem apenas seguros, controladas por grupos brasileiros, sem qualquer vinculação com grupos financeiros ou grupos seguradores estrangeiros.
Quer dizer, pelo menos tão importante como o crescimento acelerado apresentado pelo setor desde a implantação do Plano Real é a sua reconfiguração, com 8 seguradoras vinculadas a banco e 5 estrangeiras, complementadas por 1 estatal federal e 2 estaduais, somadas às 4 independentes, fechando o ranking das 20 maiores companhias de seguro do país.
Num cenário como esse, agravado pela parceria do Banco do Brasil com o grupo Sul América (que já é o maior grupo segurador da América do Sul), pela política de crescimento da Unibanco Seguros e pela entrada do HSBC na seguradora Bamerindus, não há como imaginar os canais de distribuição basicamente nas mãos dos corretores de seguros.
Hoje esta hegemonia já é simples jogo de cena, com as corretoras cativas de todas as seguradoras fazendo "fronting" para a comercialização direta de suas respectivas apólices. Redes de agentes, televendas, internet, não há mais limites para a venda de seguros, que, em função da concorrência, sofreram, em quase todas as carteiras, uma significativa queda de preços ao longo de 96.
Para dar uma idéia do potencial dos novos canais, apenas o Banco do Brasil deverá vender no mínimo 2.000 seguros por dia, ou 600 mil apólices por ano. Este número é o tamanho da carteira de seguros de automóveis da Itaú Seguros, a terceira maior carteira do mercado.
E por falar em Itaú Seguros, ela acaba de ser transferida da Itausa para o Banco Itaú, visando aumentar a sinergia entre as empresas do grupo, complementada pela capitalização e pela previdência privada.
Nesta dança alucinada o que está em jogo é o novo desenho do ranking das seguradoras, com os dois primeiros lugares garantidos por Sul América e Bradesco, mas com o terceiro já sendo disputado por Itaú, Porto Seguro, Unibanco e Bamerindus, todas com chances de ocupá-lo. Para não falar nas seguradoras estrangeiras, atualmente em compasso de espera, mas com cacife de sobra para o jogo mais pesado que virá após a reforma da Previdência Social.
Dentro deste quadro extremamente dinâmico existem apenas duas certezas: a primeira é a de que várias seguradoras irão desaparecer e a segunda é de que apenas os corretores de seguros efetivamente profissionais terão espaço para um trabalho independente.

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