São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dodô já é um colírio para os são-paulinos

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Palmeiras não tinha Cafu, Cléber, Júnior, Wagner, nem Viola, tampouco Rincón. Mas tinha Djalminha, que logo se aproveitou de uma falha da defesa tricolor para abrir o placar. E também para arrancar sorrisos de satisfação do técnico da seleção, Zagallo, que -oralilas!- resolveu se abalar do Rio para assistir ao clássico paulistano, sábado à noite, no esburacado Pacaembu: em três ou quatro jogadas de refinadíssima técnica e rara imaginação, Djalminha estabeleceu a diferença entre o bom jogador e o craque.
Já o São Paulo, que não tem craques dessa nomeada, pelo menos, tinha lá dois meninos de ouro -Denílson e Dodô, dois egressos daquela massa marrom (no dizer do alto, loiro e de olhos azuis Falabella) que engasta a coroa de Diademas em torno da cidade. Vistos assim, ambos até passariam por primos-irmãos, tal a semelhança.
Denílson já é nosso velho conhecido, embora tão jovem. E era certamente para ele que Zagallo lançava seus olhares, quando desviados dos pés travessos de Djalminha. Reprovadores, por certo. Pelo menos, no primeiro tempo, quando Denílson não conseguia se livrar da marcação cerrada. No segundo, não, pois, então, o meia safou-se da armadilha e conseguiu dar uma pequena amostra de seu imenso futebol.
Mas e Dodô, que, logo na sequência do gol de Djalminha foi lá cavar um pênalti em jogada de craque, driblando beques e goleiro?
Esse, Zagallo não tinha visto ainda de perto. E, se querem saber, nem nós, que acompanhamos o futebol cá da província com olhos múltiplos. Quero dizer: estamos vendo agora, neste campeonato, o nascimento de um artilheiro, que, se ainda não é para ser visto com os olhos de cobiça do treinador da seleção brasileira, é já um colírio para o torcedor do São Paulo.
Não só porque esteja no topo da tábua de artilharia, fruto de mero oportunismo, essa centelha que toca este ou aquele por um certo período, para apagar-se num átimo. Não. Dodô está se revelando um jogador de técnica apreciável, capaz de aliar, ao oportunismo típico dos goleadores, técnica, movimentação e velocidade de um autêntico meia.
E isso não é pouco.
*
Pena que o Santos de Luxemburgo vai se ajustando sob o temor da desclassificação. Se conseguir passar, anotem, será um sério candidato ao título.
*
O artilheiro é aquele ser incomum que nasce com uma estrela na testa. Quando a estrela brilha, é o céu. Quando se apaga, o inferno.
Túlio, que viveu o paraíso numa estrela solitária, consome-se hoje nas chamas do arrependimento: se tivesse aceitado ir para o Cruzeiro, naquela transação frustrada, não viveria esse inferno: ser substituído ainda no primeiro tempo do jogo de ontem, contra o modestíssimo Botafogo, sob as vaias da Fiel.
Pior: não restava outra opção para o técnico Nelsinho. Com a expulsão de Fábio Augusto, o Corinthians não podia se dar ao luxo de ter Túlio, paradão, em campo.
Essa lei está escrita nas estrelas do firmamento do futebol, desde a sua criação.

Texto Anterior: Dario deve ser efetivado
Próximo Texto: Márcio Araújo desmerece o adversário e vê exagero
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.