São Paulo, segunda-feira, 5 de maio de 1997
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Entenda a polêmica

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Posta à venda por R$ 10,4 bilhões, a Companhia Vale do Rio Doce é a mais valiosa estatal do programa de privatização federal. Lucrativa, é também a única empresa brasileira globalizada. Tem negócios em todo o mundo.
Movimentos de "esquerda" e políticos de Estados dependentes economicamente da estatal (como o Maranhão) usam esses fatos para argumentar contra a venda da Vale. O governo Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, rebate dizendo que não tem dinheiro para bancar os constantes investimentos que a empresa requer para continuar competitiva. Precisa, portanto, privatizá-la.
A empresa deveria ter ido a leilão na semana passada, mas dezenas de ações judiciais adiaram a venda. O governo insiste esta semana.
Por trás das batalhas nos tribunais, as principais razões que embasam essa polêmica são ideológicas (opositores) e de sobrevivência econômica (governo).
Terceira maior mineradora e principal produtora de minério de ferro do mundo, a Vale é o último bastião dos nacionalistas. Por dar lucro, também serve de trunfo aos defensores do Estado empresarial.
Para o governo, vender a Vale tornou-se necessário para sustentar o programa de privatizações e o fluxo de dólares do exterior para as bolsas de valores brasileiras.
Como a Vale é a "jóia da coroa", se ela não fosse vendida o mercado brasileiro ficaria menos atrativo aos olhos dos investidores, diminuindo a entrada de dólares.
Como o país tem gasto mais com importações do que exportações, é necessário um fluxo constante de investimentos externos para evitar um desequilíbrio que poderia comprometer a estabilidade do real.
Questões macroeconômicas à parte, os argumentos ideológicos sobre a necessidade de o país manter a soberania sobre suas reservas minerais têm deslocado o foco da discussão a respeito da principal atividade da Vale.
Segundo consultores e economistas, mais do que uma mineradora, a Vale é uma empresa de logística. Isto é: produz vários tipos de mercadoria, de celulose a ouro, encontra mercados compradores nos quatro cantos do planeta e os transporta até lá.
A espinha dorsal desse sistema é a estrutura de transporte da Vale: são dois portos, dois terminais marítimos, duas ferrovias e 16 navios de grande capacidade.
Mais do que essa infra-estrutura, é o "know how" de como operá-la de forma lucrativa que os dois consórcios interessados (um liderado pela Votorantim e outro, pela CSN) estão tentando comprar.

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