São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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'Rasteira é termo do meio dele', diz Ermírio

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Antonio Ermírio de Moraes, 68, diretor-superintendente do grupo Votorantim, manteve o bom humor no "day after" da derrota de seu consórcio Valecom no leilão da Vale.
Mas, Ermírio de Moraes ficou decepcionado com uma declaração de Benjamin Steinbruch, líder do consórcio vencedor e presidente da CSN.
Segundo a Folha apurou, Steinbruch disse que "uma rasteira de Antonio Ermírio" o fez desistir de dividir o controle da Vale com o grupo Votorantim.
"Eu não dou rasteira em ninguém. Essa já é a terceira geração da Votorantim, em fase de passar para a quarta geração e, graças a Deus, nunca passamos rasteira em ninguém."
"Rasteira é um termo que ele Steinbruch deve escutar muito no meio em que ele vive. Passar rasteira no nosso meio não é comum, talvez seja no dele", declarou.
Antonio Ermírio reafirmou que estava preparado para vencer ou perder. Lembrando a sua experiência na eleição para o Governo de São Paulo em 1986, quando foi candidato pelo PTB e derrotado por Orestes Quércia (PMDB), afirmou: "Eleição e mineração, só depois da apuração".
*
Folha - Como o sr. se sente no "day after" do leilão?
Antonio Ermírio de Moraes - Estava preparado emocionalmente para ganhar ou perder, porque já tenho uma certa experiência. Senti um pouco pelos meninos (seus filhos). Em 1986, por exemplo, perdi a eleição para o Governo do Estado de São Paulo.
Folha - O sr. dormiu bem depois da derrota do Valecom?
Ermírio de Moraes - Voltei do Rio no início da noite de anteontem. Fui dormir às 23h, mas às 3h30 levantei, comecei a ler e perdi o sono. Evidentemente, por mais calmo que a gente seja, começa a pensar e a fazer um retrospecto de tudo aquilo que a gente fez.
Folha - O sr. confiava na vitória?
Ermírio de Moraes - Não, de jeito nenhum. Já tenho uma certa experiência nesse sentido. Eleição e mineração, só depois da apuração...(risos).
Folha - Vejo que o sr. está de bom humor, apesar da derrota...
Ermírio de Moraes - Graças a Deus, porque a pior coisa do mundo é um velho ranzinza...
Folha - Alguma queixa?
Ermírio de Moraes - Apenas uma. A Folha publicou uma declaração atribuída ao Benjamin (Benjamin Steinbruch), segundo a qual ele teria classificado o episódio de sua saída do Consórcio Valecom de "uma rasteira de Antonio Ermírio".
Eu não dou rasteira em ninguém. Essa já é a terceira geração da Votorantim, em fase de passar para a quarta geração e, graças a Deus, nunca demos rasteira em ninguém. Rasteira é um termo que ele deve escutar muito no meio em que ele vive.
Folha - Como foi o seu relacionamento com Steinbruch?
Ermírio de Moraes - Tratei-o com toda a dignidade. Depois do leilão dei a ele os meus parabéns, reconheci que foram mais ousados que nós. Quero ser cordial, mas não posso admitir que esse menino venha aqui dizer que eu passei uma rasteira nele.
Folha - Por que os senhores não chegaram a um acordo?
Ermírio de Moraes - Ele queria participar com 10%, com direito a veto em papel, siderurgia e minério de ferro. Isso eu também quero. Se pudesse, com 5%, vetar tudo o que a Vale está fazendo, seria um bom negócio.

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