São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997 |
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Zilio propõe nova ocupação de espaço
CASSIANO ELEK MACHADO
Durante o regime militar, criou uma arte "de protesto" embebida na indignação com a situação. Às vésperas do emblemático ano de 68, ele trocou os pincéis pela luta armada -que fez com que fosse preso entre 70 e 72. Zilio esclarece que, para ele, não estava largando a arte: "Quando eu fazia uma ação armada, era uma performance". A partir de hoje, Zilio mostra em São Paulo uma nova proposta de ocupação do espaço -forma como ele define seu trabalho atual. As dez pinturas, oito desenhos e duas esculturas que o artista expõe no Gabinete de Arte Raquel Arnaud deixam claro que, apesar de não seguir uma linearidade, ele mantém a coerência. Partindo de uma estrutura -um formato semelhante a uma fenda-, executa variações de técnica e de suporte. Em todos os trabalhos, porém, sobrevive a ambiguidade entre figura e fundo. Desse diálogo constante, nascem as esculturas e os trabalhos com suportes transparentes -como silicone e papel vegetal-, "contrapontos que uso quando quero ver como é que aquilo corresponderia no espaço". A série "794A0", nome extraído do código que utilizava para abrir seu apartamento em Paris, chegou ao papel pela primeira vez em 93. Sua estratégia de trabalho desde então segue a rotina da contenção. Amadurece cada obra com o objetivo de só efetivar o trabalho "quando sentir que deu uma volta a mais no parafuso. Assim, evito um automatismo artesanal". A produção "contida" não interfere em heranças que diz carregar da criação "engajada" dos anos 60: um certo rigor formal e um ar ascético. Junto a esses vasos comunicantes entre os anos 60 e 90, Zilio acrescenta a sua relação com a política. "A política está onde sempre esteve em meu trabalho. Eu sempre fiz política como uma espécie de arte", diz o artista carioca. Rigor Zilio diz que hoje em dia a política ocupa seu fazer artístico em dois aspectos: "Um é esse tipo de proposta que lida com o rigor, com o ascetismo, a impressão humana". Com suas obras recentes, Zilio rema contra a sociedade de massas, contra o apelo, o consumo e a facilidade. "Eu mantenho esse vínculo de compromisso com o homem no sentido de enviá-lo para o seu próprio corpo", explica. Outro aspecto da política é sua atuação de "cidadão artista". Zilio é professor e "propositor" da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de editar uma revista de artes chamada Gávea. "Tenho uma série de atividades em que procuro politizar o sistema de artes." Zilio também concorda com outra ligação, ainda que velada, entre a produção das duas décadas. A mesma "paleta restrita" que coloria em preto, branco e vermelho seus objetos dos 60 traz para as obras dos 90 as cores do corpo -também tema dos trabalhos "engajados"-, em tons variantes de bege. Exposição: Carlos Zilio: Obra Recente Quando: hoje, às 20h; seg a sex, das 10h às 19h; sáb, das 11h às 14h; até 21 de junho Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 011/883-6322) Preços das obras: de R$ 1.200 a R$ 10 mil Texto Anterior: Se eu atender, mate-me _bem morto Próximo Texto: Luiz Hermano volta com a beleza simples do quadrado Índice |
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