São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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O RECADO MORTAL DO MST

Não bastassem as intoleráveis invasões de propriedade e mesmo a tomada de reféns, o Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) parece agora admitir a perspectiva de colocar até o assassinato em sua cartilha de ações.
A declaração do líder sem-terra Gilmar Mauro de que a morte de um segurança no Paraná foi "um recado aos fazendeiros" traz implicitamente o raciocínio de que o assassinato é um meio "legítimo" de os sem-terra lutarem por suas demandas.
Numa democracia, nenhuma instituição ou pessoa pode arrogar-se o direito de ignorar a lei. Quando à ilegalidade se junta a barbárie do homicídio, o movimento político que propugna tais atitudes instala-se na marginalidade e deixa de merecer qualquer consideração de interlocutores civilizados.
Não se trata, é óbvio, de ignorar as dimensões da violência no campo, que infelizmente vem contabilizando mortes de todos os lados, ainda que não tenha surgido, por enquanto, um fazendeiro afirmando que assassinar faz parte de sua estratégia. O que é inaceitável é que um líder de um movimento considere que matar pessoas em nome de suas reivindicações é um ato válido.
Seu "recado" equivaleria à institucionalização da guerra de todos contra todos, fato este que o poder público simplesmente não pode tolerar, sob o risco de ver-se romper os fundamentos do Estado de Direito.
Ao que tudo indica, a leniência com que os poderes públicos vêm agindo em questões como as invasões de propriedade privada ou pública está a encorajar não só pensamentos como também ações cujo leque agora passam a abranger o homicídio.
Parte da pauta de reivindicações do MST é legítima e o movimento contribui para que o governo aja de forma mais efetiva na questão agrária; mas, ao ignorar as leis, cria um ambiente de insegurança com o qual os excluídos tem ainda mais a perder. Pior: macula a legitimidade das reivindicações desses setores sociais.

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