São Paulo, quinta-feira, 8 de maio de 1997
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MIRAGEM TELEFÔNICA

Apesar das promessas do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, os brasileiros ainda não podem estar seguros de quando vai ter fim a exasperante situação em que se encontram milhões de pessoas que querem pagar para ter uma linha telefônica. Recente portaria do governo sobre o serviço de telefonia não torna esse quadro mais alentador.
Na semana passada, o governo anunciou telefones a R$ 300, valor aparentemente mais baixo do que o que vem sendo cobrado. Esse será o preço máximo da nova taxa de instalação das linhas. Com essa recente medida, no entanto, o que era na verdade um investimento vai se transformar numa despesa, como observou Elio Gaspari em sua coluna de anteontem nesta Folha. No sistema que vigorava até agora, o assinante tinha direito a ações da companhia telefônica no valor desembolsado para obter sua linha, papéis que poderiam ganhar ou perder valor, como é natural em qualquer investimento.
Pela portaria do ministro Motta, a obtenção do serviço por esse procedimento, mediante o pagamento de R$ 1.117,63, deixa de vigorar em 30 de junho. De agora em diante, os novos usuários dos serviços das teles jamais poderão rever a cor dos reais que pagaram pelo telefone.
Ademais, as tão esperadas linhas telefônicas continuam a existir apenas nos planos estatais. Como dantes, há ainda apenas filas de inscrição. Acabam os "planos de expansão", expressão que recende a um arcaico dirigismo econômico, mas a mudança é cosmética. Os candidatos a usuários devem se cadastrar e esperar, também como dantes. O costume nacional do papelório legal prevalece: a portaria do ministro sobre a "habilitação" do "pretendente" a um telefone veio antes das linhas.
Não é gastando papel e tinta no "Diário Oficial" que o governo vai resolver o problema da telefonia, mas, sim, criando de fato meios de facilitar o acesso a um serviço mais do que básico e pelo qual os cidadãos querem ansiosamente pagar.

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