São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997 |
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Zé Ramalho revisa ponta agreste da MPB
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
O disco chega a reboque do sucesso obtido por "O Grande Encontro", CD ao vivo de Zé, Elba, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, lançado no ano passado. Vem na cola, também, da redescoberta de "Admirável Gado Novo" (79), que se tornou sucesso como tema dos sem-terra da telenovela global "O Rei do Gado". Integra-se a processo mais amplo de revisão da MPB da década de 70, de que os Novos Baianos são exemplo primeiro. Aqui, porém, é o lado agreste dos 70 que volta. Zé justifica o retorno às velhas canções: "É um CD de reavaliação da minha carreira. Não é isso que George Lucas está fazendo com 'Guerra nas Estrelas'? A coisa acústica é a forma light de revisitar minha obra sem fazer cover de mim mesmo." Poucas de suas canções mais recentes foram contempladas na seleção, feita por ele mesmo. "Levei em consideração principalmente os textos. Acho que as mais antigas foram as que ficaram mais sedimentadas, e todas juntas têm um alinhamento. Nenhuma compilação da minha obra é tão completa quanto este disco", afirma. Garoto de aluguel O processo de revisão não inclui só as glórias. Ele não evita, por exemplo, o tema das acusações de plágio que pesaram sobre duas de suas canções - "Força Verde" e "Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor" -nos anos 80. "Fiz questão de incluir essas músicas, de ser transparente, expor tudo. Essas coisas aconteceram, foram importantes, traumáticas. Retorno a elas, colocando os pingos nos 'i's." Seus créditos vêm retificados. "Força Verde" agora é "baseada no poema de W.B. Yeats". Zé explica o caso: "Tirei os versos de uma revista do 'Incrível Hulk', que, ela sim, plagiou o poema de Yeats sem dar crédito. Não ia colocar na canção autoria de Zé Ramalho e Incrível Hulk". Outro lance que ele expõe sem meias palavras é na canção "Garoto de Aluguel" (79), que o encarte admite ser autobiográfico. "Foi quanto tentava sobreviver no Rio, antes do sucesso. Fazia bicos com mulheres que encontrava em festas, teatros. Não tinha onde levá-las, não tinha nem onde dormir. Elas, com medo de me colocar em suas casas, levavam ao motel. Na saída, pedia um troco, sem constrangimento", conta. A retomada de velhas canções reflete, por fim, a crise que a carreira de Zé conheceu antes da reexplosão. "Problemas relacionados à esbórnia, aos excessos, às drogas me afastaram das gravadoras. Não foi nada que me prejudicasse pessoalmente, mas as gravadoras ficaram com medo de mim", diz. Disco: 20 Anos - Antologia Acústica Artista: Zé Ramalho Lançamento: BMG Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: "E a Justiça não socorre o dorminhoco..." Próximo Texto: Artista reelabora canções Índice |
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