São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA retiram seu apoio a rebeldes

MARY DEJEVSKY
DO "THE INDEPENDENT",

em Washington
O enviado especial dos EUA Bill Richardson completou ontem uma semana de diplomacia intensiva no Zaire e países vizinhos, com poucos resultados.
Richardson acabou se rendendo a uma política de "esperar para ver o que acontece" e graciosamente devolveu o problema para o presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
Aparentemente, os altos e baixos das viagem de Richardson à África convenceram Washington de que é real o risco de confronto sangrento na luta pela capital do Zaire, Kinshasa.
O governo norte-americano também já não acredita que se possa confiar no líder rebelde, Laurent Kabila, para promover a transferência pacífica do poder ou, posteriormente, um período de estabilidade baseado em princípios democráticos e de livre mercado.
Silêncio
Nos últimos dias, as autoridades norte-americanas romperam o silêncio desconfortável que vinham mantendo sobre Kabila. O que disseram foi ambivalente, se não totalmente negativo, com referências ao passado marxista e à falta de experiência e de confiabilidade de Kabila.
Em parte, essa avaliação pode ser explicada pela ausência de Kabila ao primeiro dia de negociação com Mobutu Sese Seko, na semana passada.
Richardson, uma das pessoas que negociaram o encontro, tinha apresentado a reunião como um avanço no impasse.
Sejam quais forem os motivos dos EUA, parece que Washington está desapontado com o desenvolvimento da situação e reduziu seus objetivos para uma modesta esperança de que não haja banho de sangue, que se instale um governo democrático no Zaire, com respeito pelos direitos humanos, e que os refugiados sejam repatriados em segurança para Ruanda.
Custo diplomático
A iniciativa diplomática custou várias acusações aos Estados Unidos, todas elas negadas por Washington:
1º) O governo norte-americano demorou demais para agir. Os EUA dizem que mantinham contatos informais havia algum tempo, tentando resolver a crise de forma pacífica.
2º) A missão de Richardson deixou em segundo plano a mediação de Mandela. O governo norte-americano afirma que sempre agiu em acordo com o presidente sul-africano.
3º) A França, que tradicionalmente dirigia as negociações de paz na África Central, também teria ficado melindrada com a ofensiva americana.
Os Estados Unidos não tiveram nem sequer o cuidado de convidar o embaixador francês no Zaire para as conversações entre Kabila e Mobutu.
Se é verdade que o iminente fim dos 32 anos de ditadura de Mobutu no Zaire marcam o declínio da época em que a França era a potência dominante na África Central, os resultados duvidosos da diplomacia de Richardson fazem com que seja prematuro prever que os Estados Unidos serão o país a assumir aquela posição.

Texto Anterior: ONU anuncia nova cúpula Mobutu-Kabila
Próximo Texto: Veterano volta a Hanói como embaixador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.