São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Filme retrata guerrilha para filhos de Woodstock

RAINIERI MAIA RIZZA

RANIERI MAIA RIZZA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em uma das cenas de "O Que é Isso, Companheiro?" a personagem Clara, interpretada pela atriz Cláudia Abreu, sorri olhando uma revista com fotos de Woodstock. Do clima "peace and love" daqueles três dias do verão americano de 1969, Clara estava distante.
A personagem, inspirada em Vera Silva Magalhães, vigiava o embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado pelo grupo guerrilheiro ao qual ela pertencia, o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e a ALN (Ação Libertadora Nacional).
As exigências para a liberação do embaixador foram a soltura de 15 presos políticos, a extradição deles para o México e a publicação do manifesto do grupo nos jornais.
Na realidade, Vera talvez não tenha folheado a revista nem tenha tido interesse pelo festival de rock, sendo a cena mais uma das liberdades do filme de Bruno Barreto, baseado na obra homônima e autobiográfica do jornalista e deputado federal Fernando Gabeira.
Outros acontecimentos da história recente mundial também são citados, como a chegada do homem à Lua, o movimento Black Panthers (Panteras Negras -grupo americano de militância negra) e a Guerra do Vietnã.
Mercado internacional
No início de "O Que é Isso, Companheiro?" é explicada a situação política de um Brasil pós-golpe militar de 64 e o ato institucional nº 5, o AI-5, porque o filme visa o mercado mundial.
Uma co-produção de Lucy e Luis Carlos Barreto, pais de Bruno, com a Sony Corporation e a Columbia Pictures, "O Que é Isso, Companheiro?" foi exibido no Festival de Berlim e vem despertando polêmica.
Alguns dos envolvidos na história reprovam o filme por mostrar o torturador do SNI (Serviço Nacional de Informação), vivido por Marco Ricca, em conflito pessoal, de maneira humanizada. Também gera polêmica o personagem que não acredita na luta armada, vivido por Eduardo Moscovis.
Os atores que interpretam os jovens revolucionários não eram nascidos ou eram crianças na época do sequestro. Caio Junqueira, 20 anos, diz que o seu personagem não existiu na realidade. "Ele foi uma compilação de alguns personagens reais e foi construído durante alguns ensaios."
Reviver a história
Fazendo comparações - "a atitude política dos jovens era mais firme que hoje em dia. Existia mais união. Hoje eles são mais individualistas"-, Caio afirma ter tido um grande aprendizado. "Recebi muita informação ao viver um pouco da história que aconteceu."
O ator está em outras três produções nacionais à espera de lançamento. "Buena Sorte", de Tânia Lamarca, "For All", de Buza Ferraz e Luís Carlos Lacerda, e "Central do Brasil", de Walter Salles Jr.
Pedro Cardoso, 35 anos, que interpreta Gabeira, tinha 8 anos na ocasião. Para ele, o grupo que sequestrou o embaixador é isento de qualquer culpa. "Culpados foram os que empurraram aquelas pessoas para atitudes tão radicais."
Com isso concordaria com ele o embaixador Elbrick, que, após liberto, passou a ser um defensor do fim da ditadura militar.

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