São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Capitais chilenos no Brasil

HERALDO MUÑOZ

Há poucos dias, participei da inauguração das novas instalações da empresa Rio de Janeiro Refrescos, que pertence ao grupo chileno Embotelladora Andina. A nova fábrica, localizada em Jacarepaguá, representa um investimento de US$ 71 milhões e já é a mais completa e moderna unidade automatizada de produção de embalagens descartáveis da América do Sul.
Os investimentos não se restringiram à nova fábrica de embalagens, pois a empresa também ampliou a capacidade de sua fábrica de refrigerantes, que igualmente fica em Jacarepaguá. Desde que o grupo chegou ao Brasil, em 1994, já investiu cerca de US$ 300 milhões, criando centenas de empregos e trazendo novas tecnologias. Além do mais, os executivos chilenos têm a intenção de ampliar seus investimentos em outras regiões do Brasil.
O caso do grupo Andina reflete um novo fenômeno de crescente integração Sul-Sul. De fato, o crescente fluxo de investimentos diretos entre os países da América do Sul é um exemplo interessante de resposta regional ao processo de globalização. O Chile está enfrentando de maneira criativa o mundo da globalização, porquanto não só tem logrado atrair investimentos externos, mas já tem se transformado num país que investe além de suas fronteiras.
Ainda que os empresários chilenos tenham começado a investir no exterior na década dos 80, a corrente de recursos para o exterior passou a adquirir importância somente nos últimos seis anos.
A combinação de país democrático, sistema econômico competitivo e economia de baixo risco tem permitido que os investidores chilenos sejam bem recebidos no exterior e, além do mais, tem permitido acesso chileno a novas fontes de recursos, como, por exemplo, a emissão por parte de empresas chilenas de "American Depositary Receipts" (ADR's).
O reduzido tamanho do mercado nacional, de só 14 milhões de habitantes, e a produção de bens e serviços altamente competitivos têm sido outro motivo para que as empresas chilenas levem seus capitais para outros países. Como consequência, hoje o Chile investe no exterior uma proporção bem maior do seu PIB do que países desenvolvidos como EUA e Japão.
Ainda que os investimentos diretos de empresas chilenas cheguem a 30 países do mundo -de Cuba e México até Rússia e Croácia-, esses investimentos se concentram na Argentina, Peru, Bolívia, Colômbia e, crescentemente, no Brasil. A opção latino-americana dos investidores chilenos coincide com a decisão estratégica do governo chileno de vincular-se ao Mercosul como membro associado.
A progressiva importância do Brasil como destino dos investimentos chilenos reflete a "opção Mercosul" do Chile e a confiança dos empresários chilenos no processo da abertura e estabilização econômica, impulsionada pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não surpreende, portanto, que em 1996 o Chile tenha sido o primeiro investidor latino-americano no Brasil e o terceiro maior investidor do mundo (ficando somente atrás dos Estados Unidos e França), materializando aportes de capital de US$ 977 milhões. Os setores que concentraram os investimentos chilenos foram energia e indústria.
Os principais projetos de investimento das empresas chilenas no Brasil, além da mencionada Rio de Janeiro Refrescos, do grupo Andina, foram: a compra, por US$ 600 milhões, de 70% da Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro (CERJ) por um consórcio liderado pela empresa Chilectra; a compra de 49,3% da Ficap, empresa do setor de fios e cabos de cobre, pela Madeco do Chile, por uma cifra aproximada de US$ 160 milhões; a participação da Compañia de Telecomunicaciones de Chile (CTC) no consórcio que adquiriu 35% das ações da Companhia Riograndense de Telecomunicações, representando um aporte de quase US$ 46 milhões; e a compra, por mais de US$ 14 milhões, da Sófruta, indústria do segmento de tomate e conservas de São Paulo, pelo grupo chileno Iansa.
Os investimentos acumulados do Chile no Brasil, entre 1990 e 1996, somam quase US$ 1,4 bilhão, sendo o setor principal o de energia. Mas a evidência de que a presença dos capitais chilenos no mercado brasileiro é um fenômeno recente é refletida no fato que, somente em 1996, os investimentos chilenos no Brasil aumentaram 800%, em relação ao ano anterior. Quase 72% do capital chileno acumulado no Brasil desde 1990 foi materializado no ano passado.
Entre 1990 e 1996, o Chile investiu US$ 12,2 bilhões no exterior, em projetos de cerca de US$ 23,4 bilhões. Portanto, as possibilidades de crescimento dos investimentos no Brasil são muito amplas. Além de eletricidade e indústria, os investimentos chilenos têm boas perspectivas na área da agroindústria frutícola, especialmente no Nordeste, nos serviços, fundos de previdência privada e outros setores onde a principal vantagem chilena é a experiência de gestão e o aporte de "management" de alto padrão.
Em suma, além dos tradicionais laços de amizade chileno-brasileira, os fortes vínculos culturais, as afinidades políticas e o crescente comércio bilateral no contexto da associação chilena ao Mercosul, agora o Chile e o Brasil constroem uma rede de interdependência ainda mais profunda, por meio da presença de capitais chilenos instalados em território brasileiro, criando empregos e riqueza e multiplicando os contatos diretos entre os dois povos.

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