São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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INTIMIDADES DO BRASIL

Seis anos após o término da tradução brasileira dos cinco volumes da célebre coleção francesa "História da Vida Privada", dos historiadores Georges Duby e Philippe Ariès, o público nacional tem agora a seu alcance o primeiro volume de uma "História da Vida Privada no Brasil".
Parece inevitável associar a oportunidade dessa iniciativa de historiadores brasileiros ao extraordinário sucesso editorial conquistado pela obra similar idealizada na França. Mas, mesmo supondo que esse projeto tenha se inspirado no êxito da publicação francesa, sua importância certamente transcende a mera conveniência mercadológica.
Há sempre uma natural curiosidade em se constatar que determinados hábitos históricos do cotidiano familiar e provincial nem sempre refletiram, de maneira mecânica, direta e necessária, a dinâmica da vida econômica e política de um país. E a obra dos historiadores franceses é pródiga de exemplos nesse sentido.
Além disso, desperta natural curiosidade a realização de um projeto que procure fazer uma delimitação entre as esferas pública e privada em um país em que elas frequentemente se confundem. Não é, aliás, recente a discussão entre sociólogos e economistas sobre uma antiga e acentuada tendência de privatização da esfera pública no Brasil.
Num país que tradicionalmente zela pouco por sua memória, há que se indagar em que medida é possível um levantamento minucioso de documentos históricos sobre uma vida privada. Espera-se que essa iniciativa tenha, dentre outros méritos, o de recolher dados já presentes em muitas teses acadêmicas (possivelmente destinadas ao anonimato) que registram cenários e práticas significativas do universo privado. A coleção brasileira estaria assim realizando uma parte desse precioso resgate.
Deve-se, por fim, lembrar que o projeto conseguiu catalisar alguns dos melhores intelectuais representantes de novas e antigas correntes da historiografia brasileira, com orientações teóricas bem diferentes.
Talvez esteja aí mais uma boa oportunidade para se iniciar a formação de um Brasil menos desmemoriado.

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