São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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DILEMA DO PT

As pressões sobre o governador Vitor Buaiz (PT-ES) expõem mais uma vez um dilema que parece perseguir seu partido. Acumulam-se exemplos de que o PT enfrenta dificuldades de administrar sem enredar-se em infindáveis disputas internas entre seus representantes eleitos e as suas bases de sustentação política, situações que por vezes criam mesmo empecilhos para os governos comandados pela sigla.
O problema evidenciou-se na gestão da prefeitura paulistana por Luiza Erundina (1989-1992), que enfrentou vários boicotes internos até convencer os correligionários, após muito desgaste, que governar a cidade era mais complexo do que imaginavam os ingênuos voluntaristas.
A questão agora é mais grave. O partido já não tem o álibi de ser novato. Obteve o segundo lugar em duas eleições presidenciais; venceu vários pleitos municipais importantes e governa um Estado e o Distrito Federal.
É desolador que o governador capixaba tenha na bancada do próprio partido seu maior adversário político. Mais desolador ainda é que a direção do PT o obriga a manifestar-se contra o presidente Fernando Henrique Cardoso, como condição de não expulsá-lo da agremiação.
O que será pior? A exigência da direção do PT ou o fato de Buaiz, eleito popularmente, tê-la aceito calado? Expondo assim suas fraturas internas, é o partido inteiro que vê prejudicada sua imagem aos olhos de todos. Dessa forma, a experiência bem-sucedida do PT gaúcho poderá tornar-se uma bela exceção que só confirma uma triste regra.
Isso é mais lamentável quando se avalia o importante papel do PT na transição do país para a democracia. Foi sobretudo por meio dele que muitas demandas sociais represadas no período militar ganharam uma via institucional e se legitimaram politicamente. A democracia brasileira só teria a ganhar com um PT forte, maduro e equilibrado, mostrando-se apto a governar. Infelizmente, não é isso que hoje se verifica.

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