São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Ridículo tirano

RUI NOGUEIRA

Brasília - Um bom serviço à democracia é parar de criticar o Congresso de forma generalizada e começar a dar nomes aos bois, a expor os artífices das trampolinices que repassam à opinião pública a idéia de que não há diferença alguma entre os 513 deputados e os 81 senadores.
O saco de farinha é grande, mas um senhor como o líder do PFL, deputado Inocêncio Oliveira (PE), é joio da melhor qualidade e não merece ser confundido com trigo. Inocêncio é um parlamentar de podres poderes.
Na reforma administrativa, comandou o coro da fisiologia contra o teto salarial no serviço público. Aliado a um grupo que quer somar salários e aposentadorias até o limite da indecência, Inocêncio foi um dos responsáveis pela barafunda instalada na Câmara. Hoje, ninguém mais sabe se o maior salário pago pelo governo será mesmo de R$ 10,8 mil e que berloques mais vai propiciar a uns privilegiados.
O líder do PFL conseguiu reduzir uma das mais importantes discussões -como reformar a administração do Estado?- numa pendenga em defesa de gordas aposentadorias. Às vezes ultrapassam os R$ 30 mil -250 salários mínimos sacados do cofre público, o mesmo que não consegue pagar nem R$ 1.000 aos mortais trabalhadores.
Na semana passada, encurralado pelos destaques da oposição em defesa da estabilidade dos funcionários públicos, um Inocêncio com medo de medir forças no voto transformou-se em um ridículo tirano do Legislativo.
Argumentando que a redação dos destaques oposicionistas não respeitava o regimento interno da Câmara, tentou desqualificá-los e reenviá-los para a Comissão de Constituição e Justiça. Foi contido por um providencial apitaço.
Pode até ser que haja erros na redação, mas a manobra foi claramente obstrucionista.
Contra a irracionalidade da estabilidade defendida pela oposição, Inocêncio tenta esconder um fato: não são poucos os pefelistas que posam de modernosos ao lado de FHC, mas, de olho no palanque de 98, não querem perder votos junto aos funcionários públicos.

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