São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Bordel geriátrico

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Uma das mais repugnantes manifestações da sociedade é a prostituição infantil, que cresce em todo o mundo. Pior mesmo, só o oposto: a existência de um bordel geriátrico, no qual economistas e políticos, de várias idades e feitios, prostituem a sociedade humana em nome do orgasmo neoliberal.
São velhos debochados, qualquer que seja a faixa etária a que pertençam. Na crença de que os ideais de justiça social estão sepultados pelos escombros do Muro de Berlim, entregam-se à depravação globalizada do mercado. Produzir mais pelo mais baixo custo é um afrodisíaco que nasceu na pré-história, quando o primeiro neoliberal descobriu que ganhava mais gastando menos. E quando o mais apto elegeu como vítima de sua aptidão a exploração, depois a exclusão do menos apto. O próximo paroxismo da orgia será a eliminação.
Foi Paulo 6º, seguido mais tarde por João 23 e João Paulo 2º, que lançou a idéia de uma hipoteca social para o capital. Isso no tempo em que ainda havia capital e trabalho, agora reduzidos pela economia globalizada à lei do mercado. Seria um âncora a garantir a estabilidade da sociedade humana -colocada acima de qualquer outro valor ou processo.
Outro dia, um economista neoliberal citava Hong Kong como exemplo da modernidade. Não possuindo recursos naturais nem mercado consumidor, sendo uma sucessão de rochas, tem uma renda per capita superior à da Inglaterra e à da maioria dos países do mundo.
Possui apenas "mesas", onde são registrados impulsos eletrônicos que transferem dólares virtuais de um país para outro, de um conglomerado de empresas para outro. É a promiscuidade da troca de parceiros no leito da globalização.
Este é o modelo da depravação econômica que tanto excita o apetite de velhos economistas, para os quais a sociedade humana é um amontoado de supérfluos, que só servem para atrapalhar o prazer deles.

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