São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Motta fala em "calúnia" e nega envolvimento na compra de voto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) anunciou ontem que vai interpelar judicialmente os deputados que o citaram como envolvido na compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição.
Referindo-se à edição de ontem da Folha, o ministro disse: "Considero irresponsável o uso feito (das declarações gravadas)".
Motta se eximiu de qualquer responsabilidade no episódio, mas cobrou providências contra os deputados que, em gravações obtidas pela Folha, afirmaram ter votado a favor da emenda por dinheiro.
O ministro criticou a manchete de ontem da Folha ("Nova fita liga Sérgio Motta a compra de voto para reeleição"). Em nota oficial, ele considerou a manchete "enganosa, caluniosa e tendenciosa".
Segundo o ministro, não há "informação ou dado concreto" que justifique a manchete. "Não existe matéria (reportagem). Existe conversa evasiva entre pessoas de comportamento duvidoso."
A nota oficial diz ainda que a manchete do jornal tem "nítidas e estranhas intenções políticas".
"Qualquer leitor, ao ler as transcrições, verificará que não existe nenhuma denúncia ou fato concreto. Eu me recordei muito das repúblicas da Alemanha, dos métodos de Goebbels, dos métodos fascistas de repetição de fatos para criar verdades sem ter nenhum apoio na realidade."
Sem perguntas
O pronunciamento foi no auditório do ministério. Motta não aceitou responder a perguntas. "Não tenho sobre o que debater. Quem pode se explicar melhor são os deputados e a Folha".
Segundo Motta, os deputados que o apontaram como fonte dos recursos utilizados para a compra de votos (João Maia e Ronivon Santiago) terão de negar ou confirmar na Justiça o conteúdo das fitas. Depois disso, ele tomará "as medidas judiciais cabíveis".
O ministro disse que a comissão de sindicância criada pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), deve "tomar as providências mais duras, inclusive com cassação dos mandatos dos deputados envolvidos".
"Os fatos causam a maior repulsa, tratando-se de um Brasil velho, no qual (havia) hábitos de alianças com a corrupção do poder público e, principalmente, de uso do poder público com objetivos escusos."
Para o ministro, essas práticas foram "totalmente varridas do panorama do atual governo".
Parte da declaração de ontem do ministro Sérgio Motta foi endereçada aos investidores. "Os mercados podem ficar absolutamente tranquilos", afirmou.
Ele ressaltou que o ministério está trabalhando "tranquilamente e regularmente" na licitação para a banda B da telefonia celular e negociando os últimos destaques para a aprovação da Lei Geral das Telecomunicações. "Quero fazer uma declaração para o país e para o mundo, no sentido de que a lei será aprovada."
O ministro afirmou que a publicação da reportagem de ontem trouxe prejuízos para o país. "Em função da matéria, houve movimentações no mercado nacional e internacional. Houve prejuízos para o Brasil no mercado de ADR (recibos de ações negociadas nas Bolsas dos EUA). É isso que a irresponsabilidade no uso da liberdade de imprensa gera, muitas vezes."

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