São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997 |
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Agricultores colocam peru na sala do ministro Kandir Governo considera atitude 'inaceitável e ato de violência' ABNOR GONDIM
Os manifestantes disseram que colocaram o peru no gabinete do ministro porque é um animal de "muito papo e pouca ação". Eles reclamavam de que Kandir apenas prometeu anteontem aumentar em 50% os recursos para a agricultura familiar. A invasão do prédio, que durou nove horas, e a ação da PM do Distrito Federal, que levou um dia inteiro para desalojar os invasores, abriram uma crise entre a Presidência da República e o governo petista de Cristovam Buarque. O porta-voz do Planalto, Sergio Amaral, disse que a invasão era inaceitável e um ato de violência. Com base no artigo 21, inciso XIV da Constituição, o governo federal decidiu intervir na PM do DF. A Constituição diz que compete à União organizar a PM do DF. A assessoria de imprensa de Cristovam disse que o governador ia conversar com o presidente Fernando Henrique para dissuadi-lo da intervenção. "Se tiver intervenção em toda a PM vai ser crise na certa", disse a assessoria. Novas invasões Os agricultores só deixaram o ministério depois que ficou acertada uma reunião com os ministros Kandir, Raul Jungmann (Política Fundiária) e Milton Seligman (Justiça) para tratar sobre as reivindicações de mais recursos à agricultura familiar, reforma agrária e Justiça no campo. "Desocupamos o ministério, mas vamos voltar a ocupar agências bancárias, propriedades e prédios público se não houver uma resposta concreta do governo", disse o presidente da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), Francisco Urbano. A desocupação também foi estimulada por uma liminar de manutenção de posse obtida pela Advocacia Geral da União junto ao juiz da 13ª Vara Federal em Brasília, Manoel Ferreira Nunes. A Polícia Federal foi acionada para cumprir a ordem judicial. A invasão foi inicia às 6h30 por cerca de 600 agricultores, segundo avaliação da Contag. Segundo a Polícia Militar, 400 manifestantes ocuparam o ministério. Além do peru, os agricultores também fantasiaram um bode e o batizaram com o nome do ministro da Agricultura, Arlindo Porto. Reação O governo considerou a invasão como um gesto intolerante dos agricultores, pois há dez dias secretários de seis ministérios vinham negociando o atendimento das 80 reivindicações do protesto. "A atitude dos militantes do Grito da Terra Brasil rompe de modo unilateral e por meio ilegal e ilegítimo o diálogo produtivo que vinha sendo travado entre as partes", disse Kandir, em nota oficial. Segundo a nota, na véspera da ocupação, ele tinha afirmado que seria possível atender 15 reivindicações, inclusive o aumento de R$ 1 bilhão para R$ 1,5 bilhão no orçamento do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Para o ministro Seligman, houve falha na segurança preventiva da Esplanada dos Ministério por parte do governo do Distrito Federal. Texto Anterior: Jovem guarda Próximo Texto: Crise do Judiciário, violência e ética são temas de seminário Índice |
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