São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Kassovitz é vaiado por 'Assassinos'
AMIR LABAKI
Pouco se sabe sobre o filme, a não ser o tema central -suicídio. Tido como certo na competição, só teve sua exibição confirmada após o início do festival. Em nota à imprensa, o diretor afirmou: "Talvez seja o único filme para o qual não escrevi sinopse. Temia ser mal interpretado. Preferi uma frase do filósofo romeno Cioran: 'Sem a possibilidade do suicídio, eu já teria me matado há muito tempo"'. Dois filmes fecham o penúltimo dia de competição: "She's So Lovely", de Nick Cassavetes, e "Assassinos", de Mathieu Kassovitz. "Assassinos" mereceu a única grande vaia até aqui. Em mais de duas horas de projeção não se vislumbra o talento revelado em "O Ódio", premiado aqui em 1995. O filme parte de um curta-metragem homônimo rodado por Kassovitz em 1992. Um pistoleiro (Michel Serrault) decide ensinar o ofício a um jovem pupilo. Fracassa duas vezes. Primeiro com um operário (Kassovitz), depois com um adolescente (Mehdi Benoufa). "Assassinos" não consegue desenvolver a trama. Cede para o exagero e a redundância. Som e música doem nos ouvidos. O filme grita pois nada tem a dizer. Kassovitz deve ter ouvido que a inflação de imagens banaliza a violência. Eis que imagens de TV e de videogames acompanham caleidoscopicamente toda a estória. Pior: não satisfeito com a oferta da TV verdadeira Kassovitz encena ao fim uma telecomédia pornô-sádica e um debate de telejornal. Conclui caçando a palavra e desligando a TV, como se decretasse a falência do jornalismo e da teoria. Suplicava a vaia que levou. Uma curiosidade brasileira: Ronaldinho aparece num longo trecho de um comercial da Nike que é assistido por um dos protagonistas. Merchandising é risco: acertaram no craque, erraram de filme. Kassovitz é polêmica certa na coletiva que concede hoje. Antes da exibição noturna de "Assassinos", três estrelas hollywoodianas dão as caras: John Travolta, Sean Penn e Robin Wright, atores de "She's So Lovely". Os dois últimos competidores serão projetados amanhã: "O Beijo da Serpente", do francês Philippe Rousselot, e "Happy Together", de Wong Kar-wai. Os favoritos para a Palma de Ouro, que será entregue domingo, continuam sendo o americano "The Ice Storm" (Tempestade de Neve), de Ang Lee, o canadense "The Sweet Hereafter" (Calmaria Depois da Tormenta), de Atom Egoyan e o filme-escândalo austríaco "Funny Games" (Jogos Divertidos), O crítico Amir Labaki está em Cannes a convite da organização do festival. Texto Anterior: Fracassa reunião de palestinos com Israel Próximo Texto: Filmes 'bem-comportados' dão o tom na competição de curtas Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |