São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Aos compradores, as bananas

CLÓVIS ROSSI

Belo Horizonte - Parte substancial do establishment político brasileiro enveredou, a partir das fitas de suborno de deputados, para um comportamento no mínimo indecente.
O PFL, por exemplo, expulsa dois deputados por fuzilamento sumário. Nem sequer se deu ao trabalho de esperar uma perícia nas fitas, para saber da autenticidade delas. A Folha tem, como é óbvio, a certeza da autenticidade, mas tribunal algum aceitaria apenas a palavra de um jornal ou de quem quer que seja como prova definitiva.
Ao mesmo tempo, considerou os deputados "corruptos confessos", mas não aplicou idêntico conceito ao governador Amazonino Mendes (AM), que é do partido e, tanto como os deputados, está nas fitas.
A menos que o PFL ache que só é corrupto quem se vende e não quem compra.
Os partidos governistas pedem o afastamento de Sérgio Motta, ministro das Comunicações, como nítida manobra para aplacar a ira do público, chocado com as revelações.
Afastar Motta seria assumir que as fitas contêm a verdade e nada além da verdade. Mas é evidente que mesmo a mais cândida das pessoas desconfia, com toda a razão, de que não é toda a verdade.
A verdade é que o processo de votações no Congresso, não só da reeleição, mas de todos os projetos de interesse do governo, está sob suspeição.
Se houve, como o PFL aceita explicitamente, venda de votos pela reeleição, por que não pode ter havido em outros episódios?
Como parece impraticável comprovar um amplo leque de deslizes e, uma vez comprovados, revogar todas as decisões tomadas em função deles, que se tenha pelo menos a decência de reiniciar o processo relativo à emenda da reeleição e, simultaneamente, provocar uma purga no mundo político.
É o mínimo para evitar que o Brasil vire de uma boa vez uma república bananeira.

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