São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Setor de transformação perde US$ 17,7 bi

DENISE CHRISPIM MARIN
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

A indústria de transformação brasileira deixou de lucrar US$ 17,7 bilhões entre 1993 e 1996 com a perda de competitividade nos mercados interno e exterior. A cifra equivale a uma perda acumulada de 25,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do setor no período.
O cálculo considera os saldos negativos e positivos da balança comercial da indústria de transformação no período e constam do estudo "Ações Setoriais para o Aumento da Competitividade da Indústria Brasileira".
O trabalho foi concluído recentemente pela Secretaria de Política Industrial do MICT (Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo). Chama a atenção para o fato de que os produtos desse setor tornaram-se os problemas mais graves na balança comercial do país.
O déficit comercial da indústria de transformação superou o saldo negativo total do país em 94, quando chegou a US$ 1,8 bilhão, e em 96, com US$ 1,4 bilhão.
"Isso indica que parte importante do déficit dos produtos desse setor tem sido financiado pelo superávit gerado por produtos agropecuários", diz o estudo.
O trabalho fecha um diagnóstico com 18 setores produtivos considerados pelo MICT como os de "maior densidade tecnológica". De fato, são os setores identificados por contar com alto potencial de aumento da produção para os mercados interno e externo.
Segundo o ministro Francisco Dornelles (MICT), o estudo deverá servir como base de ação para o governo estimular, a longo prazo, a reestruturação desses setores.
Ansiedade
O texto será enviado ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para avaliação das medidas de financiamento sugeridas.
O estudo responde à ansiedade do governo em dotar de maior competitividade setores-chaves no sistema produtivo. Também está associado a duas preocupações: os resultado da balança comercial e os compromissos de integração.
O déficit acumulado na balança comercial entre janeiro e abril deste ano chegou a US$ 4,008 bilhões e só não foi pior porque começaram em março os embarques da soja.
Ao mesmo tempo, o país se vê amarrado a compromissos futuros de redução de tarifas de importação com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e precisa de tempo para preparar especialmente essa indústria.
O estudo do MICT joga um balde de água fria em duas argumentações repetidas pelo governo para não haver preocupação com os déficits na balança comercial.
Assinado por Dornelles, o texto aponta que não deve ser superestimado o impacto positivo do aumento das importações de bens de capital. Isso porque as compras internas tenderam a cair -ou seja, está havendo substituição e prejuízo à indústria fornecedora local.
Essa conclusão debilita a tese defendida por todo o governo sobre a tendência de que as compras externas de bens de capital colaborarem no aumento da produção exportável do país.
O texto afirma ainda que o aumento dos investimentos no país nos últimos anos "não seria suficiente para assegurar a sustentação de um novo ciclo de expansão" da produção econômica.

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